sexta-feira, 3 de maio de 2013

CRÍTICA - Homem de Ferro 3


Supera a segunda parte da franquia, mas ainda assim não faz jus ao filme que deu origem ao personagem


HOMEM DE FERRO 3 - Iron man 3



Tudo é diferente sobre Homem de Ferro neste terceiro filme. As mudanças vão da trilha sonora à humanização do personagem, passando por dezenas de armaduras, piadas constantes e conexões com heróis de outras histórias. O novo filme estrelado por Robert Downey Jr. supera sem dificuldades a segunda parte da franquia, mas ainda assim não faz jus ao filme que deu origem ao personagem e sofre demais com a mudança na cadeira de diretor.

A saída de Jon Favreau, que deixou a direção para Shane Black é sentida ainda quando a tela está escura. A trilha sonora já não é mais balizada no rock singular de AC/DC; ao som da baladinha eletrônica do final dos anos 90 de Eiffel 65, Blue (Da Ba Dee), Tony Stark surge como um narrador onipresente contando fatos de sua vida e como eventos do passado o levaram a chegar onde está agora. Tal característica é inexistente nos anteriores e apenas um dos fatores que fazem desta terceira parte um filme deslocado em relação ao demais.

Desde 2008, quando Homem de Ferro chegou pela primeira vez aos cinemas, os fãs mais assíduos sabiam que aquele não era o personagem dos quadrinhos. Em vez de elaborar o personagem alcoólatra e com problemas financeiros, Jon Favreau desenvolveu uma figura contemporânea do herói como um playboy arrogante. A ideia foi acertada e extremamente coerente ao encontrar o ator perfeito para o papel:  Robert Downey Jr.

Com isso em mente e o sucesso do primeiro filme, a adaptação da história original deixou de ser uma preocupação muito elevada.  Com a aquisição da Marvel pela Disney, em 2009, Favreau sofreu para manter a franquia nos trilhos e não pôde evitar acrescentar War Machine e personagens pobres como Justin Hammer no roteiro. O resultado foi o fracasso da segunda etapa que serviu apenas como pontapé inicial para o projeto Vingadores. 

Já o terceiro filme zomba da lógica. Homem de Ferro 3 é o recado de Shane Black e da Disney de que eles são detentores legais da história, e contam ela da maneira que bem entenderem. O resultado disso é uma história totalmente nova, funcional e divertida, mas que descarta boa parte daquilo que é o Homem de Ferro de verdade.

Enquanto aos poucos Tony Stark se tornava cada vez mais máquina e menos humano, Shane Black parte na contramão. A proposta do terceiro filme é a humanização do Homem de Ferro, para isso a armadura é deixada de lado e Robert Downey Jr. ocupa lugar de destaque na tela. Mas nem por isso a ação é posta em segundo plano. Black tenta mostrar ao público que Stark é o herói, não a armadura, e por isso faz dele um James Bond de fundo de quintal, com investigações, perspicácia e uma cena de invasão a domicílio ao estilo Missão Impossível.

A ideia funciona, e os méritos são de Downey Jr. O ator conquistou o público em outras aparições, inclusive no gigante da Marvel: Os Vingadores. O problema é que além de seu temperamento arrogante, Stark não foi um personagem tão bem desenvolvido, o que força o diretor, e também roteirista, a reinventar sua personalidade. O que vemos agora é alguém afetado por uma invasão alienígena que sofre ataques de ansiedade e tenta ser mais receptivo e carinhoso com fãs, mídia e seu relacionamento amoroso. Tudo isso seria uma decisão acertada se fosse desenvolvida com calma e tempo, aplicá-la bruscamente a um personagem que já protagonizou três filmes torna a película destroncada, como algo que não se adéqua perfeitamente onde deveria.

O maior problema de Homem de Ferro 3 é que está preso a um universo maior que ele. É um filme que não tem a obrigação de dar sequencia a sua própria franquia, mas a de fazer a conexão com Vingadores, Thor, Hulk e os demais, servindo de ponto zero para a segunda fase da Marvel no cinema. Isto, por exemplo, transformou um dos maiores inimigos de Tony, o Mandarim, e todo o misticismo envolvendo os dez anéis, em apenas uma piada de mal gosto, salva apenas pela brilhante interpretação de Ben Kingsley.

Salvo os erros de roteiro, Homem de Ferro 3 agrada a maior parte do público. A quantidade infindável de armaduras é um espetáculo a parte, mas poderia tirar melhor proveito do 3D, ponto baixo e que nem sequer é requisito, proporcionando pouco mais do que a película tradicional. As piadas corriqueiras de Tony Stark (ou de Downey Jr?) estão mais uma vez presentes, e por momentos até mesmo exageradas. A busca de Shane Black pelo humor do personagem é tão exaustiva que ápices dramáticos são comprometidos em prol de uma gracinha, fator que precisa urgentemente ser corrigido se a ideia é mesmo dar à franquia um grand finale digno.

O filme se vale do talento de seu elenco de estrelas, que além de Downey Jr, conta com Gwyneth Paltrow, Guy Pearce e Ben Kingsley. Tais presenças e o efeito visual das mais de 40 armaduras elaboradas, somado ao humor característico da franquia são mais do que o suficiente para fazer de Homem de Ferro 3 um bom filme. Mas é justamente essa presença de um elenco grandioso e o sucesso exorbitante que a Marvel obteve no cinema que tornam o filme menos suscetível às críticas e à percepção de suas falhas, mas elas estão lá, e muito numerosas.


Diogo S. Campos


Um comentário:

  1. Cara, minha cidade esta sem cinema... so em julho com a estreia de Man of Steel

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