quarta-feira, 5 de junho de 2013

CRÍTICA - Se Beber, Não Case 3

 (THE HANGOVER PART III, 2013)


O bando de lobos está de volta na terceira parte da aventura de Se Beber, Não Case. O novo longa apresenta uma proposta diferente do presenciado nos filmes anteriores. Apesar de continuar com o formato de escala caótica de acontecimentos, deixa o “apagão” dos personagens de fora, encontra novas justificativas e, justamente por isso, acaba sendo o menos engraçado dos três.

Mas existe algo que precisa ficar claro ao se dizer que Se Beber, Não Case - Parte 3 não é tão bom quanto seus antecessores. A problemática envolve aquilo que público e críticos gostam, ser surpreendido. Quando o primeiro filme chegou, em 2009, sua premissa era inovadora, o blackout, e a retomada dos acontecimentos atribuíram ao filme todo o sucesso capaz de arrecadar muitas vezes o valor de seu custo.

Quando a segunda parte estreou, em 2011, ela seguiu os mesmos passos do primeiro, e apesar de fazer as mesmas piadas e contar com algumas tiradas inteligentes como justificativa, foi vista com maus olhos e sofreu com argumento de que havia “perdido a originalidade”. O terceiro filme segue o mesmo rumo, um pouco mais sutil e sisudo, mas sofre as mesmas recriminações.

Pois bem, no cinema a originalidade anda de mãos dadas com o pioneirismo. Se um filme inovador transforma-se em uma franquia, ele vai utilizar da mesma fórmula de sucesso nas continuações, aconteceu com Bruxa de Blair, Atividade Paranormal, e naturalmente acontece com Se Beber, Não Case. Dizer que a parte três perdeu a originalidade de seu precursor é nada mais do que um pleonasmo.

O novo encontro de Alan, Stu, Phil e Doug se deve a uma intervenção na qual os amigos e família de Alan decidem interná-lo em uma clínica psiquiátrica. Daí para frente o filme assume um formato road trip que os leva a Tijuana e depois de volta a Las Vegas. Se Beber ,Não Case - Parte 3 é o episódio final de uma trilogia, e tal responsabilidade acaba por nublar, diante dos olhos do público, a identidade dele sobre a franquia, caindo sempre nas inevitáveis comparações com seus precursores e tornando difícil julgá-lo separadamente.

Mas seu diretor, Todd Phillips, é um sujeito inteligente. Ele costura os três filmes ao se valer da participação de John Goodman, como um fora da lei que foi prejudicado pelos acontecimentos dos dois primeiros filmes. Tenta ainda compensar a falta da originalidade do filme de 2009 com a supervalorização dos personagens de Zach Galifianakis, Ken Jeong, que interpretam Alan e Mr. Chow. A própria presença de Heather Graham, como a mãe do bebê Carlos, serve de elemento para concretizar a trilogia.

Neste aspecto Phillips é merecedor de elogios, dificilmente uma trilogia hollywoodiana é pensada antes de chegar as telas, aquilo vislumbrado em Senhor dos Anéis ou em Star Wars já não é mais um produto muito rentável. Em sua maioria, os estúdios criam franquias e decidem terminá-las quando notam que não se pode mais explorar o produto, obtendo resultados lastimáveis como Jurassic Park ou Transformers.

Se Beber, Não Case - Parte 3 cumpre aquilo que se podia esperar dele: um filme divertido que proporciona a oportunidade ao público de reencontrar personagens tão marcantes. Tem ainda cenas épicas como a abertura em uma rebelião no presídio de segurança máxima de Bangkok, e um pós créditos alternativo em relação às tradicionais fotografias. Mas é apenas mais um produto comercial que acaba por denegrir toda a franquia, coisa comum na Hollywood dos dias atuais. 


Diogo S. Campos


quarta-feira, 22 de maio de 2013

CRÍTICA - O Último Exorcismo II


 (The Last Exorcism 2: The Beginning of the End, 2013)

Parte do problema do cinema atual é o dinheiro. Claro que sem ele não haveria grandes produções, mas ao mesmo tempo quando se tem muito, ou melhor, se arrecada muito, o filme deixa de ser algo criativo e artístico para se tornar simplesmente um produto comercial. Quando O Último Exorcismo chegou às telas, em 2010, ele vinha com uma prerrogativa, o inusitado exorcismo filmado com câmera amadora e narrado pelo próprio exorcista. Essas características, bastante usadas atualmente e de baixo custo, proporcionaram ao filme um sucesso além do esperado. Com a alta arrecadação não demorou muito a surgir uma sequência. O Último Exorcismo – Parte II é o fruto comercial de um filme razoável que abandonou totalmente as peculiaridades dignas de elogios de seu antecessor, sendo assim um filme, além de desnecessário, pouco criativo.

A história começa dias após o término do primeiro filme. A jovem Nell, de alguma maneira sobreviveu e se encontra psicologicamente afetada pelos eventos aos quais foi subjugada. Ela é encaminhada para uma casa de recuperação ao lado de outras meninas, onde é convencida por seu médico cético de que tudo não passou de uma alucinação. Daí para frente uma sucessão de cenas irão mostrar o crescimento das forças do demônio Abalam, que outra vez quer possuir a doce garota, até culminar (novamente) no último exorcismo.

A necessidade deste filme é discutível. O Exorcista, em seu trágico final com o padre Karras e o demônio Pazuzu, também não deixava margens para uma sequência, tanto no filme de William Friedkin quanto na obra de William Peter Blatty. E mesmo assim, em 1977 veio uma segunda parte, seguida anos depois de outra sequência e suas prequelas. Então a existência de uma Parte II para a saga de Nell não chega a ser surpresa. O problema está no fato de que, ao contrário das ramificações de O Exorcista, ele não encontra uma justificativa em seu enredo para prosseguir com a história, Abalam passa a ser pouco mais do que um espírito jovem e sexualmente obcecado por Nell, dada a quantidade de cenas dedicadas a fazê-la sentir paixão ou prazer.

Além de abandonar o formato da câmera amadora do primeiro filme e não encontrar um fio condutor em seu enredo, o diretor Ed Gass-Donnelly perde seu personagem principal, o padre charlatão que guiou a primeira parte. Agora ele se reduz a personagens estereotipados do gênero terror, como médicos céticos e devotos africanos.

Poderia se dizer que o ponto alto do filme é o fato de Ed ter prestado atenção em como outros diretores criam a atmosfera sensitiva quando se trata de espíritos em filmes do gênero. As alucinações, os telefones tocando, estática em aparelhos elétricos e pessoas de olhar fixo nas ruas. Todos esses elementos estão presentes, mas são usados de maneira exaustiva. A quantidade incontável de cenas picotadas que elevam o som ao ápice com único objetivo de levantar o espectador da poltrona é risível. Um momento ou outro tem sucesso, inevitavelmente em um filme de terror há de se levar um susto ou dois, mas quando este é o único objetivo do diretor deixa de ser algo positivo.

Ed consegue dar uma sobrevida a seu filme nos minutos finais. Seu desfecho é capenga e mal desenvolvido, mas ainda assim inovador, auxiliado pelo talento de Ashley Bell ao desempenhar o papel de possuída durante o longa. A clara esperança de dar uma continuação a história, algo plausível e que, da maneira que a segunda parte foi elaborada, apenas pode ficar melhor.


Diogo S. Campos


quinta-feira, 16 de maio de 2013

CRÍTICA - Uma Ladra Sem Limites



UMA LADRA SEM LIMITES   (Identity Thief, 2013)

As comédias têm cada vez mais dificuldade em separar aquilo que é engraço do que é extravagante. Uma ladra sem limites trabalha no limiar, tentando conciliar personagens esteriotipados e protagonistas talentosos. O resultado é bom, mas não aproveita tudo aquilo que Melissa McCarthy e Jason Bateman têm a oferecer.

A história segue a fórmula das roadtrips, é a tentativa descarada de reproduzir o sucesso de Um Parto Viagem. Mas nesta comparação Uma ladra sem limites já sai em desvantagem, visto que o anterior contava com presença de  Robert Downey Jr e Zach Galifianakis, incontestável na comédia após os papéis de destaque em Se Beber Não Case.

A ideia é a seguinte: duas pessoas totalmente opostas são forçadas a atravessar o país juntas. Uma sucessão de acontecimentos e encrencas as leva a se conhecer melhor e cativa a plateia. Nesta premissa a justificativa para essa viagem quase é esquecida. Jason Bateman é Sandy, um trabalhador dedicado que tem sua identidade roubada por Melissa McCarthy, detentora de vários nomes durante o filme. O enredo é simples, ele precisa ir até a Flórida e trazê-la para casa e solucionar seus problemas legais.

Em meio a escala de problemas que o filme tenta reproduzir, a exemplo de outros tantos, é funcional, mas unicamente porque Melissa submete-se a interpretar cenas grotescas e forçadas, que tendem mais ao ridículo do que ao engraçado. Este clima permanece durante boa parte do filme, até que ela toma as rédeas e surge um pouquinho de drama e talento sob aquela casca criada pelo diretor Seth Gordon.

Melissa McCarthy é sem dúvida superior ao colega Bateman. Ela enfrenta dificuldades em emplacar algo que traga seu nome na capa, anos atrás seu talento como atriz de comédia já era visível em Gilmore Girls, e novamente em Mike & Moly, série na qual é protagonista. Mas em ambas, e também em Uma ladra sem limites, seus papéis são agressivos a aparência, e minimizam o resultado, fazendo piadas geralmente sobre peso e motivações.

O filme vai agradar mais aqueles que conhecem as etnias e estereótipos presentes nos Estados Unidos. Jon Favreau, antigo diretor de Homem de Ferro, faz uma pontinha para interpretar o proprietário de uma empresa que mal sabe o nome de seus empregados e não os valoriza. Junto a isso há o negro, a latina, o pai de família interpratado por Bateman, e claro, a obesa Melissa, entre outros.  Seth Gordon acerta ao brincar com as características extremistas de seus personagens de forma natural, excetuando no tocante a protagonista, dando ao filme um pequeno ar de crítica social.

 Uma ladra sem limites tenta ser um acúmulo de características que permeiam os filme de comédia que obtiveram sucesso de público. Sua premissa é boa e os elementos estão bem claros, mas não consegue extrair de seu casal protagonista aquilo que precisava para ser um filme marcante, acaba tornando-se maçante e pouco digno de elogios.


Diogo S. Campos