sexta-feira, 11 de dezembro de 2009

Histórias de Jake - Trinta dias no Inferno

Te vejo errando e isso não é pecado, exceto quando faz outra pessoa sangrar.
Te vejo sonhando e isso dá medo, perdido em um mundo que não dá para entrar.
Estou aproveitando cada segundo antes que isso aqui vire uma tragédia.
E mesmo que nada funcione eu estarei de pé, de queixo erguido.
Só por hoje não quero mais te ver,
Só por hoje não vou tomar minha dose de você.
Cansei de chorar feridas que não se fecham e não se curam.
Essa abstinência uma hora vai passar.


1º Dia

Ainda dentro do carro naquela madrugada ele queria testar até onde iam os arrependimentos dela. Era apaixonado por Ela e não podia negar, já não conseguia mais esconder isso, queria tê-la, queria que Ela estivesse ao seu lado, poder andar de mãos dadas na rua, queria parar de se esconder. Mas ele sabia o que receberia em troca.

-E então... você... quer ir naquela festa sábado a noite?

Ela o olhou com sua habitual cara de sarcasmo, que ele detestava mas não podia queixar-se, talvez a única coisa que tivessem em comum era a capacidade de zombar das pessoas em um nível diferente, superior, um sarcasmo, um deboche as vezes até mesmo constrangedor.

-Mas eu já lhe disse que vou. –ela respondeu.

-Não! Quero dizer, Ir, comigo, nós dois. Entendeu?

Ela suspirou, não era aquilo que ela queria, queria tê-lo, talvez sim, mas longe das demais pessoas, não queria mostrar para as amigas um namorado quatro anos mais novo. Ela nem mesmo sabia explicar para si mesma o que sentia em relação a ele, muito menos expressar para os outros. Então... a melhor sentença que conseguiu.

-Quando a Gente Tá, a Gente Tá. Mas quando a Gente não tá, a Gente não tá.

4º Dia – Antes da Festa

Sentaram na frente do apartamento dele sábado a tarde, ele a tinha nos braços, como era bom estar com ela, senti-la, como fechar os olhos sob as cobertas naquela tarde fria de junho e abraçar o edredom quentinho ligado a tomada, paz, uma leve paz, na esperança de que tudo estava bem.

-Vai estar comigo esta noite? Vai ficar comigo esta noite?

Ela tinha a cabeça apoiada no peito dele, desvencilhou-se levemente dos braços dele e o olhou.

-Sim, eu vou.

Então o beijou.

4º Dia – A Festa

Duas horas da manhã e não a avistara ainda. Um lugar enorme como aquele é realmente difícil de se encontrar alguém , mas existe um único lugar onde todos precisam ir, em festa, a cada quinze ou vinte minutos. O banheiro.

Quando a avistou ela estava pulando amarelinha sobre o cascalho de mãos dadas com a irmã e a amiga. Não era bom, se pulava amarelinha com os cabelos esvoaçastes como estavam e o sorriso tão largo quanto o espaço entre suas orelhas... havia bebido. Bebido muito.

Ela não o viu.

Então ele entrou na frente dela, realmente a assustando, quebrando seu movimento, roubando sua atenção.

Ela fez que não o viu.

Foi bastante para deixá-lo possesso, mas não o suficiente para desistir.

A segunda vez que a viu, ela dançava balançando os cabelos para todos os lados, escondendo a própria face, descia, dançava descendo até o chão, para cima e para o chão novamente, atrás dela um desconhecido, um desconhecido lhe passava as mão nas pernas e no corpo dançando no mesmo ritmo dela, o corpo colado no corpo dela, com a cintura colada na cintura dela.

Ele petrificou.

Quantas músicas se passaram até ele retornar a realidade, não saberia dizer, mas ela passou ao seu lado e ele a segurou pelo braço.

Desta vez ela não pode fazer que não o viu.

Então o olhou séria.

Com os olhos estalados em uma expressão de fúria, como se o mandasse embora, então soltou o braço e se perdeu na multidão.

Ele foi embora,

Mas foi apenas depois de

Sete doses de tequila, três caipiras de vodka , quatro de vinho, seis latas de cerveja e uma dose de um wisk barato que nem sabia pronunciar o nome.

Não conseguiu chegar em casa, dormiu no sofá da Loira de peito estufado.

7º Dia

-Por que fez aquilo!

-Porque eu estava com minha irmã não queria que ela me visse ficando com ninguém.

-Aaaah, ela não podia ver você me beijando, mas aquele outro cara, ou qualquer outro não havia problema!

-Eu não fiquei com ninguém!

-Ótimo, então você me rejeitou simplesmente por vergonha de mim.

-Eu não tenho vergonha de você.

-Não precisa mais ter mesmo, não vai mais ter do que se envergonhar.

-O que quer dizer?

Mas ele não respondeu, apenas saiu sob a chuva e a deixou na parada de ônibus.

13º Dia

Ele viajou, saiu da cidade, sua banda favorita faria um concerto e ele resolveu ir assistir.

Há duas semanas não a via, há duas semanas não a beijava.

Começava a sentir saudades.

15º Dia

A Garota Loira de sorriso estridente lhe entregou as más noticias.

-Não gosto de ter que te contar isso, mas... a tua garota, parece estar voltando para casa, pelo o que sei, ela está dormindo com ex novamente.

Ele tinha sorriso na face antes de receber a noticia.

ANTES de receber a noticia.

16º Dia

-Quero te contar isso antes que você fique sabendo da boca de outra pessoa.

Ela repousou os talhares na mesa do restaurante e o olhou.

-Eu dormi com ele.

Suspirou profundamente, a vontade era de dizer “Eu já sei sua vadia!” , mas sabia que não deveria. Mandou o medo embora e falou quase sem tremer.

-E quando você diz “dormi”, significa “transei”?

Ela apenas confirmou com a cabeça.

-Quantas vezes?

Ela ergueu os olhos.

-Uma.

-Quando?

Ela abriu a boca para expressar seu desconforto com as perguntas, MS ele indagou novamente.

-Quando foi?

-No domingo. –ela disse encarando o prato de comida.

Ele suspirou e processou, fez as contas.

-Você transou com ele no domingo? No mesmo dia em que eu viajei!? Você sabia o quanto eu esperei por esse dia e sabia o quanto feliz eu estava, e fez isso para estragar o meu dia?! Não, não foi pensando em mim não é? Nem mesmo se lembrou de mim. Era dia das mães não era? Deixe-me adivinhar... ele foi lhe parabenizar pela bela criaturazinha que vocês fizeram, então ele te mandou flores, quantas? Conhecendo ele eu diria seis, no máximo oito. Então ele te levou para jantar e você pensou “Ora por que não transar também?!” Afinal de contas faz quase dois meses desde que você transou com aquele Visitante não?

Ela ficou em silêncio, provavelmente tinha muitos palavrões para atirar na cara dele, mas não o fez, apenas o ficou vendo ir embora novamente.

18º Dia

Ela estava saindo da aula naquela noite de quinta feira quando viu um rosto que há muito não via.

A Garota das Fadas.

A Garota que tentou beijá-lo e ele a dispensou.

Eram amigos, bons amigos, falavam a respeito de tudo, e na maior parte do tempo a respeito de sexo, ele não era assim com nenhuma outra garota, apenas com ela, não tinha pudores com ela, e mesmo assim, jamais haviam dormido juntos.

Sentaram-se na parada de ônibus após horas de conversa.

Nem mesmo tinha certeza se ainda haveria algum ônibus.

Ela desamarrava seus cadarço e ele amarrava novamente.

Ela desamarrava e ele amarrava.

Duas, três, quatro vezes...

-Para com isso... parece uma criança...

Ele disse em meio a risadas, e ela riu com mais vontade, sentados com as pernas coladas, rindo, felizes, sem um mundo lá fora para incomodá-los, apenas duas crianças...

Beijaram-se.

A noite acabaria muitas horas depois.

22º Dia

Havia apenas um boato que corria de lábios a orelhas onde eles trabalhavam.

“Parece que não deu certo entre Ela e o ex novamente. Pelo visto ela continua na casa da mãe.”

Alivio, satisfação, ele não sabia descrever o que sentia a respeito disso.

Apenas mais tarde foi descobrir porque se sentia tão alegre,

Era esperança.

25º Dia

Ele telefonou e foi o encontrar na casa dele.

Sentaram lado a lado.

A conversa foi curta, não havia o que dizer, apenas muito a lamentar. Ele ficou em silêncio, a cabeça baixa, perdido em pensamentos. Ela avançou para ele, colou sua testa na testa dele. Ele respirava alto, rapidamente, descompassado, nervoso...

ela o beijou...

Não!

Ele a trancou.

Colocou o braço sobre o peito dela e a impediu de avançar, a impediu de beijá-lo.

-O que foi? Agora não vai mais querer me beijar?

Ela falava até mesmo com uma satisfação na voz.

Uma única lágrima lhe escorreu pela face direita.

A primeira lágrima em dois anos.

Então a beijou, jogou-a contra o bancou e deitou sobre ela,

Beijando-a com ferocidade,

Rápido,

Forte.

Ela o afastou por um instante.

-Espera.

-O que? –ele perguntou.

-Está... diferente.

-Diferente como?

-Eu não sei... parece que... com raiva.

Ele sorriu.

29º Dia

Eles se recordariam desse dia como o melhor beijo que já tiveram.

Ela de joelhos no chão, arrumando-se para sair do intervalo e voltar a trabalhar.

Ele segurou seu rosto com as duas mãos e a beijou.

Segurando o ar, looonga e demoradamente.

Deixando-a quase sufocar,

Afastou-se um pouco, meio passo, trazendo-a consigo, fazendo ela quase levitar...

Estão a soltou e lhe deu as costas.

Antes de sair ele a ouviu sussurrar.

“Minha nossa!... mas não era assim... não me sentia assim antes.”

30º Dia

A amiga loira de sorriso estridente lhe disse tempos atrás, no mesmo dia em que havia dito que o abandonava.

“Um dia, essa situação vai se inverter. Escreva o que estou lhe dizendo. Um dia a mesa vai se inverter e não mais você vai correr atrás dela. Ela vai correr atrás de você. Espere e verá.”


...continua

Um Grande Abraço
Diogo S.Campos

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