sexta-feira, 27 de novembro de 2009

Histórias de Jake - O Visitante

Ele encontrou com o Visitante dois meses depois de ter terminado o namoro com ela. Esse visitante mal lhe perturbava a memória comparado com tudo o que passara desde então, mas não estava pronto para perdoá-lo, mesmo que ele alegasse ser inocente, não mudava os acontecimentos. O homem atravessou a porta da loja com uma caixa sob o braço esquerdo, um sorriso no rosto e a mão estendida sobre o balcão para cumprimentá-lo.

Ele sorriu para o visitante, e não apertou a mão.



-Como assim novidade? O que você deixou de me contar? –perguntou a Mortícia com aquele seu tom que mescla “não me importo” com “como se atreve?!”.

-Não me cobra isso garota, da última vez que nos falamos você ainda tinha as madeixas vermelhas. Então ...

-Bom, não importa, ele também não me contou e eu quero saber, então deixa ele falar.

-Vocês duas não acham melhor a gente sair, já passa do horário de fechar, daqui a pouco nos mandam embora.

-Não. –disseram em coro. Não é um muito sábio um homem enfrentar a cabeça de uma mulher sozinho, quanto mais de duas.

-Por mim tudo bem então. –ele respondeu sorrindo. –Mas eu quero outra coca.

Ele se levantou e foi pegá-la. Essa seria uma das piores partes da história. Uma coca-cola lhe faria bem. Precisava esfriar a cabeça, depois do que tinha feito no dia anterior... quando chegasse a hora de contar isso talvez não encontrasse palavras, precisaria beber algo mais forte.

-Bem meninas. –sentou novamente, elas travaram a conversa onde quer que estivesse e pararam para escutar, não pareciam cansadas de ouvir, ou talvez sentissem que deviam isso a ele, sempre ele quem escutava, deixassem que ele falasse um pouco.- como eu disse, tivemos uma visita na loja uma semana depois dela ter entrado no ônibus aquele sábado.

A loira estonteante de peito estufado entrou aos pulos aquele dia na loja. Estava feliz, e quando ficava assim parecia ter quatorze anos de idade. Entrou e o abraçou em um salto, quase o derrubando para trás, ele fechou as mão atrás de sua cintura unicamente para não perder o equilíbrio, mas soltou rapidamente assim que viu o olhar dela. A colega estava trabalhando no caixa naquele dia, e já não era segredo que não gostava daquela loira, sabia que ele tinha uma queda por ela e ele já havia dito que gostaria que tivesse dado certo. Era fato que ele a loirinha não fecharam, não combinavam, mas mesmo assim ela não conseguia vê-los como amigos. Sentia-se traída, mesmo sabendo que os dois nunca sequer beijaram um ao outro.

Ele e a colega tinham um caso secreto. Ficaram às escondidas a semana toda, ele não gostava disso, nunca foi de casos superficiais, ou eram de verdade ou não, mas algo nesta colega o cativava, o prendia, era quase que... instintivo.

Final de mês. Ao termino dos trinta dias a equipe de vendas costumava ganhar um premio quando completava o valor da meta. Na época a equipe era entrosada e vendia bem, as jantas de final de mês eram quase costumeiras e não mais presentes.

Esta seria a última janta da qual ele participaria.

A loira de peito estufado foi embora da mesma forma que chegara, aos pulos, sorrindo. Pessoas costumam pensar demais, uma folha com um galho é uma tempestade a caminho, um ânsia significa ressaca, vontade é gravidez, um homem e uma mulher se abraçando, sexo. Foi isso que os demais colegas pensaram dele e da loira, sobre isso foram as piadas. Apenas uma pessoa além da colega sabia a verdade. A amiga loira sorridente, mas ela preferiu importunar a colega e se juntou ao grupo dos piadistas, fazendo piadas mentirosas sobre ele e a loirinha. Claro que o resultado era óbvio, a colega ganhou um argumento, um argumento muito fraco mas ainda assim um argumento, para justificar o que fez no decorrer da noite.

Também uma vez por mês recebiam um Visitante na loja, ele era encarregado de certos ajustes, manutenção de máquinas inteligentes –as máquinas eram inteligentes.

Acompanhou a colega com os olhos, já haviam passado seus intervalos juntos e feito aquilo que faziam melhor, ela seguiu pelo corredor até a bomba d água, encheu o copo, atrás dela com uma chave de fenda desparafusando uma máquina estava o visitante, eles trocaram um breve olhar, ela olhou para ele e desviou rapidamente em uma meia lua, focando a bomba, dando uma risadinha e novamente o encarando. Ele não percebeu o que aquilo significava, não pensou nada de mal a respeito dela, começava a gostar e a pensar que ela também gostava dele. Pretendia pedi-la, assim que a oportunidade surgisse. Jamais teria entendido o quanto aquilo foi significativo.

O jantar estava marcado para a noite e todos estavam convidados. Ele, a colega, a loira de sorriso largo, o Chefe –que pagaria a conta-, o Visitante, e o Galego. Galego também era um colega, motoqueiro –ela tinha um fraco por motos, o que não o agradava, era contra esse veículo, muito perigoso, e a cicatriz que ela tinha no queixo por andar de moto com o ex psicopata fortalecia seus argumentos- O Galego havia pegado um capacete extra, o capacete da própria esposa, para poder dar uma carona para a colega assim que o jantar terminasse, moravam próximos.

A pizzaria era horrível. As bordas vieram queimadas, o garçom não sabia diferenciar os sabores, a conta fora trocada e o valor dado era cem reais superior ao que deveria, a única coisa que descera certa naquela mesa foram as bebidas, as incontáveis bebidas mesclando cervejas, caipirinhas e vinhos.

Os humores se modificaram rapidamente e a felicidade tomou conta da mesa, abraços e sorrisos, fotos, muitas fotos, fotos que nunca seriam transferidas a um computador ou impressas, os sentimentos no final da noite forçaram as fotos a serem apagadas.

O visitante sentara distanciado, na ponta da mesa ao lado da Loira sorridente, tinha uma paixão de anos por ela, mas passivo demais ou simplesmente com culhão de menos, nunca tomara uma iniciativa, nem mesmo para receber um grande e sonoro não, mas lá estava ele, mês após mês ao lado dela. Nem se comparava com o relacionamento Dele com a Colega.

A mão direita dele estava entre as pernas dela. Subia e descia freqüentemente, passeava por sua cocha até o joelho e novamente subia, firme, explorando, demarcando território, ela apertava as pernas, mas não mudava o assunto que conversava com o Galego sentado a sua frente, a mão subia mais, as cochas faziam pressão uma contra, a outra a palma precisava fazer mais força para subir, subia, e não era expulsa. Galego segurava a mão dela sobre a mesa, mas ele não se importava, enquanto o rapaz de pele clara acariciava a mão dela, ela acariciava seu segredo, não importava o que os outros viam, não importava o que pensavam nem que achasse que era do outro que ela estava afim, ELE sabia de quem ela gostava, sabia que eles tinham algo, e sentia o calor do desejo dela na ponta de seus dedos. ELE sabia.

Três carros e uma moto os levariam para casa. Ou ao menos era para casa que ele achou que iriam. Ele pegou uma carona com o chefe, ela o acompanhou e sentou no banco de trás. O Galego pegou o capacete extra e o pendurou no braço, subiu na moto. A Loira sorridente foi embora com o Visitante. Pararam todos frente a casa da Sorriso largo. Queriam sair, mas o grupo era muito disforme, sem muito entrosamento não sabiam para onde ir, o álcool que já lhe amortecia as palavras também os desnorteavam. Eles desceram do carro e tentaram em grupo tomar uma decisão. Não foi muito difícil. Iria cada uma para sua casa. Assim disseram.

A loira sorridente entrou para casa e deixou o Visitante sozinho, como o de costume, ele voltaria para sua cidade de mãos abanando.

Ele deu a volta no carro do chefe e estava pronto para abrir a porta Dela quando notou que ela não o acompanhara. Parada a meio caminho dele e do Galego na direção oposta, em sua frente o carro do Visitante. Ele com a porta aberta para que ela entrasse. O Rapaz de pele branca sobre a moto usando seu capacete e segurando o extra. O Visitante dentro do próprio carro, com o vidro abaixado olhando para ela.

Ela se apoiou com os braços na porta do carro do visitante. A cabeça parando em três pontos de tempos em tempos. Nele, no Galego, e no Visitante. Como uma criança olhando pelo vidro do balcão de uma confeitaria, na dúvida de qual doce iria levar para casa e comer antes de dormir, dormir sem escovar os dentes, para poder saborear a noite toda.

Ela abriu a porta do carro do Visitante e entrou sem olhar para trás.

Foi apenas nesse momento em que ele percebeu o que estava acontecendo ali. Ele não era o único interessado, apenas o único envolvido emocionalmente, os outros dois estavam ali querendo apenas uma coisa. O capacete extra não estava ali apenas para prestar uma carona, não era para casa que o Galego queria levá-la. O Visitante não se demorara tanto por ser um cavalheiro, nem mesmo pensara em levá-la para casa –e no momento que perguntou se ela queria ir dormir sabia estar sendo hipócrita. Mas Ele, ele estava ali por simplesmente gostar dela, não chegaram a se consumir naquele sábado, mas gostava da companhia dela, por talvez achar que estava se apaixonando de verdade pela primeira vez depois de tanto tempo, por ser uma criança inocente que somente agora se deparava com a realidade do mundo. Romance, amor, cavalheirismo, não era isso que ela desejava, não era isso que seus instintos clamavam, o que ela queria era animal, era sujo, e ele não poderia lhe proporcionar.

Ele entrou no carro e fechou a porta, ouviu o motorista dizer.

“Perdeu essa, amigo.”

Quando o motor do carro ligou, a ignição foi dada também em sua cabeça, foi nessa noite em que formou sua opinião sobre ela, e por mais que nos momentos futuros ele tenha tentado negar o que pensava, no fundo ele a conhecia, sabia como ela era, e sua opinião não mudaria, ela mesma se encarregaria de provar isso.

-No outro dia eles chegaram juntos na loja. Olheiras. Ela ainda usava a mesma maquiagem, a roupa amarrotada e os cabelos amarrados em um rabo de cavalo. Ele andava com as pernas aberta e tinha um sorriso largo. Homens não são bons em disfarçar.

Elas não falaram nada.

Pela primeira vez ao terminar de contar uma historia, fosse a respeito da mulher que fosse, elas não falaram nada, nenhum comentário. O impulso com certeza tinha muito a dizer, mas seus dentes pareciam segurar as palavras, com pena dele, pois sabiam que se estas fossem proferidas ele ficaria muito machucado.

-Tá, mas... e aí? Então vocês ainda estão... brigados? –perguntou a amiga com os dedos sujos de açúcar, e ao fazê-lo recebeu um olhar desaprovador da Mortícia. “Claro que eles estão brigados! O que você acha?”

-Bom... não exatamente...

A morena de cabelos lisos lhe olhou assustada “Não acredito que você voltou com ela!”

-Isso foi há três semanas.

-Eeeee... –disseram ambas em coro.

-Bem... ontem ela me ligou...


...continua.



Um Grande Abraço
Diogo S.Campos

Um comentário:

  1. Contagiros....contratempos, devaneios e enlouqueço bem é isso...

    Bjos garoto ^^

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