quinta-feira, 21 de janeiro de 2010

Peso da Alma IV - Revelação

Meu futuro é você.”


Renan disse que a amava mais alto do que necessário, com mais firmeza do que esperava e com a veracidade de um juramento. Exatamente como um assassino com as mãos sujas de sangue diz que não é culpado.

Natasha riu internamente ao mesmo tempo em que negava para si própria que aquilo poderia ser verdade. Não acreditava mais em Renan, não importava o que ele dissesse, já havia tomado sua decisão.


“Espero que me entenda Jennifer eu preciso que você compreenda” - o pensamento lhe atravessou a cabeça novamente.


Inspirou, fechou os olhos em busca de concentração. Puxou o ar, mas não o soltou. Era assim que fazia, era assim que sempre fazia sem nunca se dar conta. Dessa forma é que deixava “O Outra” assumir. Sabia que não estava forte o suficiente já havia dado uma parte de si mesma para outros no passado, agora usaria Jennifer para passar sua missão à frente. Internamente pedia que funcionasse, mas não acreditava.

Soltou o ar lentamente de seus pulmões, abriu os olhos e seguiu em direção a garota, ela tinha poucos segundos para passar tudo a pequena aprendiz à sua frente. A noite parecia mais escura que o habitual a pouca iluminação da rua os deixavam sobre uma penumbra.

Nem todos notariam a mudança na cor dos olhos de Natasha, os castanhos amendoados davam lugar a escuros e profundos negros.

O espaço dobrou sobre si mesmo e uniu-se dentro de sua mente, como um raio rompendo os céus, um leve estrondo quase imperceptível aos ouvidos menos apurados, já não era ela mesma. Avançou alguns passos precisava ter contato físico com a garota.


- Eu já me decidi Jennifer ele é seu. Você quis o Renan, você o desejou e agora só te faço um pedido CUIDE muito bem dele, como fiz até aqui o PROTEJA.....já não posso mais – as últimas palavras foram quase sussurradas.


Natasha abraçou a garota. Segurou fortemente seus braços em volta dos braços de Jennifer, impedindo que ela se movesse encostou sua testa na cabeça dela uma corrente elétrica percorreu seu corpo.

Jennifer conseguiu “ver” por alguns segundos o que Natasha queria lhe dizer através de imagens, a garota não percebeu, mas enviou uma mensagem subconsciente para seu corpo e como se um sistema de segurança fosse ativado ela bloqueou toda a energia que Natasha tentava lhe transmitir.

Um escudo se formou. A imensa barreira que Natasha sempre se referiu, como em um espelho toda a energia que ela havia destinado a Jennifer voltou para ela.

Foi mais rápido do que pode compreender na hora. Uma barreira de tijolos negros invisíveis que a repeliu e jogou contra o chão. Os reflexos de Jennifer foram rápidos, enquanto o corpo de Natasha seguia de encontro ao chão, as mãos de Jennifer seguravam os braços da ruiva amenizando o impacto da queda.

A ajuda inesperada livrou Natasha de bater com a cabeça fortemente no paralelepípedo da calçada. O peso de seu corpo caiu sobre o braço direito deslocando a clavícula.

Denis correia em direção a amiga estendida no chão a mente dele repetia de maneira frenética:


Como pode cometer um erro tão tolo, justo você!Como pode quebrar o equilíbrio”.


Jennifer estava assustada demais para fazer qualquer coisa além de chorar.

Renan estava ao lado de Natasha segurava- a nos braços e soluçando repetia:


- Meu futuro é você.


Natasha viu Renan em seus pensamentos novamente, repeliu a imagem, não queria vê-lo, não poderia. Apenas uma pessoa seria bem vinda agora...


-Natasha! Acorde!


Abria lentamente os olhos, era como se nuvens brancas a impedissem de ver de maneira clara. Ao se recompor percebeu um olhar fixado em seu rosto. Não os olhos verdes claro do amigo, mas os castanhos mel que assumiam quando o “outro” estava no comando.


-Por isso você não me contou. Sabia que se me contasse eu lhe impediria. – O ouviu dizer ao fundo, as palavras pareciam abafadas, distantes.


Deu um leve sorriso.

“Sim”

Ele entendeu o que ela fizera, agora estava na hora de contar a verdade.


-Natashaaaa! Denis emitiu um gruído


Simplesmente ela desfaleceu.







O corredor na faculdade fica quase deserto nas sextas feiras. Denis bateu a latinha vermelha oca na mesa e não a largou. Desistiu de retirar o refrigerante de seu interior, mas viu que nem mesmo ele“mestre dos magos” poço de paciência agüentaria esperar mais para ouvir as explicações.

Ergueu os olhos.

“Verdes” - pensou Natasha sem nem ao menos perceber.

A encarou. Encarou como jamais o fizera, não era alguém com quem pudesse duelar, mas ela estava muito fraca para isso agora. Mesmo assim baixou os olhos.


-Fale.


Não era preciso completar a frase. Natasha sabia o que ele dizia de verdade.


-Você me arrastou daqui para uma missão a qual eu desconhecia, sem me dizer o porquê, apenas que eu tivesse fé em você. Assisti você quase se matar em uma tentativa infame de fazer sabe-se lá o que. Você me deve explicações.


Ela conhecia o amigo, sabia que ela jamais diria isso a ela, “sozinho” ele jamais diria, esse era o tipo de coisa que ela diria, já no caso dele... bem, no caso dele “FALE” era mais do que o suficiente.


-Nós fomos lá para...


Ele ergue a mão que segurava a latinha em sinal de pare. Normalmente ela não respeitaria esse sinal, mas hoje era um dia diferente.


-Sei para que fomos lá. Falaremos disso depois, seus devaneios não são prioridade. Quero saber sobre sua doença. - Ele falava sem encará-la, nunca a encarava.


Os olhos dela eram um canal de energia, focá-los tempo demais deixaria qualquer um exaurido.

As pupilas dela encolheram, se assustara de verdade, não sabia que ele conseguiria entender tanto em apenas uma noite.


-Chama-se ... como se quisesse evitar falar...- Coagulação de Vasos Sanguíneos. Ocorre depois que seu corpo sofre um Acidente Vascular Cerebral, em palavras comuns depois que seu cérebro para de oxigenar e como diriam os leigos você sofre um derrame. Não tem cura.Os pontos roxos no meu corpo são seqüelas dos vasos que estouram lentamente, posso ter um colapso a qualquer momento, não sei quando podem atingir órgãos vitais. Estão em estágio de micro, mas podem aumentar nessa condição que estou só tratamento.


Ele olhou suas retinas muito brevemente. Suspirou e então falou novamente.


-Você é uma idiota.


Ela havia dado a explicação de sua doença encarando o mármore da mesa da lanchonete, os olhos distantes não movia nenhuma parte do corpo, apenas os lábios se moviam de forma quase mecânica, como um transe.

Denis ao ouvir o som dessas palavras ergueu a cabeça, quase enfurecido.


-Você foi até a casa da Jennifer para dar a ela o Renan!


Ela não teve reação, não havia o que dizer. O que faria? Pegar o garfo com qual comia o assado de frango e enfiar na orelha dele. Do que resolveria? Precisa escutar.


-Foi até ela para entregar seu fardo. Quanto nobre isto deveria estar parecendo em seus pensamentos. Aposto que se lembrou de quando John cortou os pulsos e Lúcifer apareceu diante dele com um terno branco.


Sua face não teve reação, mas ela matinha uma máscara cética, como se quisesse provar a ele que tudo que falava era bobagem. Quanto tempo seguraria a máscara?


-Sacrifício. Que belo gesto Natasha – Denis proferia enquanto balançava as mãos em forma de desdém.


Ele sorriu. O sorriso irônico que ela tanto gostava, mas nunca havia experimentado em si própria. Então ele colocou as mãos levemente sobre a mesa e sua feição mudou, assim como a cor de seus olhos. Castanho mel.


-Hipocrisia!


Ela sentiu a máscara ruir. Suas costas bateram no encosto da cadeira como se tivesse sido empurrada. Ficou séria e brava.


-Você não queria dar ele para ela por que ele ficaria melhor assim, ou seria mais feliz. Você não estava fazendo isso por eles, estava fazendo por si mesma! Estava fazendo porque está muito cansada de tanto carregar ele nas costas, triste por ter adoecido, você estava prestes a desistir então esta foi a oportunidade perfeita não foi?


Silêncio.

Os alunos continuavam a caminhar pelos corredores sem notar a existência dos dois, como se estivesse cercados em um mundo só deles.

Ela não teve palavras.


-Por isso ficou doente. Você interferiu naquilo que já estava escrito. Você tentou alterar a vida das pessoas quando estas já haviam sido decididas. Você conhece as regras Natasha. Apenas observadores.


Ela levantou a voz, não o bastante para quem andava no corredor ouvir.


-De que adianta ser o que somos e saber o que sabemos se nunca podemos agir?


E a isso ele deu de ombros e falou com a voz calma, quase irritante:


-Não fui eu quem fez as regras Natasha, apenas estou dizendo que você às quebrou. Agora está pagando o preço. –apontou para a tipóia azul no braço direito na ruiva.


Ela olhou para baixo. Puxou o ar.


- Não me venha falar em equilíbrio Denis, não você. Não me julgue você não tem esse direito você quer a verdade não é mesmo? Você está preparado para ouvi-la por inteiro GAROTO?


As sobrancelhas dela estavam arqueadas os olhos negros como a noite sem estrelas, os lábios quase sem cor contrastando com o vermelho de seus cabelos e a palidez freqüente de sua pele.

Sua voz era gélida, porém firme ela encarava Denis , como se o chamasse para um duelo mental com o dedo indicador da mão esquerda apontado para o centro do rosto de Denis deixou as palavras fluírem.


- Não ouse nem por um instante tentar usar seu poder de persuasão para cima de mim, sabe perfeitamente que não funciona. Se realmente me acha fraca porque não ousa me enfrentar, sem precisar de uma garrafa de Vodca para se encontrar GAROTO, só eu e você.


Denis a olhou por debaixo das lentes sabia que ela jamais usaria aquele tom para falar com ele se realmente o assunto não fosse tão grave. Havia algo mais, ela estava escondendo algo além de ter sido por causa de Renan que adoecera... tentou procurar uma explicação plausível.

Parou assustado como ele pode ter esquecido. Ela o ajudou ela, o tirou do abismo quando...

Seus pensamentos foram interrompidos.

Com a boca entreaberta Denis a encarou e sussurros saíram de sua boca:


- Por amor Natasha... você fez tudo isso por Amor? Denis a indagou de maneira quase inconformada.


Natasha inspirou profundamente e fechou os olhos uma lágrima rolou pelo seu rosto.


-Assim como você Denis eu....


- Cale-se! Interrompeu Denis – Não fale mais nada, não quero ouvir!


- A verdade dói não é? Indagou ela arqueando a sobrancelha esquerda.


Natasha se pôs em pé e bateu na mesa com a mão esquerda fazendo a latinha de Coca-cola cair no chão.


-Como ousa me chamar de fraca depois de tudo o que você fez com a Priscila!


Denis levantou-se abruptamente e com as mãos na mesa encarando os olhos embriagantes dela:


-Não ouse tocar nesse assunto novamente!


A cor dos olhos dele tornara-se indefinida assim como sua feição e seus sentimentos.

Seria Fúria, ou Medo?

TO BE CONTINUED


Keli Wolinger E Diogo S.Campos

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