quinta-feira, 9 de maio de 2013

CRÍTICA - Somos tão Jovens



Somos tão Jovens

A palavra é nostalgia. Somos tão Jovens, filme de Antonio Carlos da Fontoura que conta a trajetória de Renato Russo até a formação da aclamada banda Legião Urbana, lida com as emoções de quem admira o cantor, e conta sua história de maneira linear, mais lírica do que documental, o que pode agradar também àqueles sem um conhecimento profundo de sua temática.

Sua abertura por si só já é algo admirável. Enquanto o espectador é apresentado aos nomes de quem faz o filme, vislumbra também uma quantidade ímpar de fotos da infância e adolescência de Renato, algo tão saudosista quanto o primeiro contato com o livro Renato Russo: o filho da revolução. A trilha sonora é a grande responsável pelo sucesso iminente da cinebiografia, o acervo arranjado de Carlos Trilha dá ao filme a verossimilhança necessária, não abandonando o ator Thiago Mendonça sozinho ao microfone, e faz de Renato (o verdadeiro) uma presença viva no longa.

Mas quando as cortinas se abrem, logo após os créditos iniciais, a impressão não é boa. Renato sofre uma queda de bicicleta (com um ou outro problema de edição) e após uma cirurgia fica preso em seu quarto. Nesse período ele mergulha de vez no mundo da música e da literatura. A história é essa mesma, quem conhece a banda sabe. Mas a maneira como Fontoura coloca isso em seu filme revela a pressa em mostrar ao público que Thiago Mendonça interpreta Renato. Sua obsessão por música punk e escritores renascentistas é atirada para a tela de uma maneira grosseira, tentado construir a personalidade de seu protagonista nos minutos iniciais, sendo que ainda havia uma hora e meia de filme para fazê-lo.

Depois disso, o filme cresce, bem como seu astro principal. De maneira linear acompanhamos eventos marcantes que geraram a ascensão e queda o Aborto Elétrico, a jornada do trovador solitário e por fim a formação do Legião Urbana. A preocupação de Fontoura é nítida em mostrar ao público quais personagens estão na história, quando Dinho Ouro Preto aparece tem alguém lá para ressaltar “Este aqui é o Dinho”, o mesmo acontece com Hermano e Marcelo Bonfá. Como se apenas seus papéis e caracterização, todas formidáveis, não fossem o suficiente.

Somos tão Jovens peca em relação a sua conexão com veracidade. Muito do que está ali é documental e verdadeiro. Mas muito está de fora, e aí está o grande problema do filme. Público e crítica sentem muito mais falta daquilo poderia ter sido, do que se agradam com resultado obtido. Renato Russo e a Legião são sucesso de audiência, o que os torna algo muito difícil de retratar.

Em vista disso, e com o intuito de agradar, o filme conta apenas a parte boa da história, sem se aprofundar do tema do homossexualismo ou da doença que levou seu biografado à morte. Mesmo as crises no Aborto Elétrico são carismáticas e a personalidade arrogante de Renato soa como comédia. Uma escolha, que torna o filme funcional, mas desagrada aqueles que foram ao cinema em busca de algo mais documental. 

O filme de Fontoura se vale de algo que poucos outros têm o privilégio de contar: a presença garantida nas sala da Legião de fãs, e justamente por isso é a receita do sucesso. Mas ainda é um olhar muito superficial da história de Renato e mais ainda da Legião, que ainda teria muitos anos pela frente após o término do longa. Ao fim, Somos tão Jovens mais acerta do que erra, mas deixa no espectador aquele gostinho de “faltou alguma coisa aí!”.


Diogo S. Campos

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