-Metallica é ruim. –disse ela passando pasta por pasta das minhas músicas, sentada frente ao notebook na escrivaninha em meu quarto usando minha camiseta do Oasis com o escrito “Heeey Lyla” na frente.
-Claro! Bom é aquele sertanejo universitário que você escuta. Metallica está entre minhas bandas favoritas, cuidado onde pisa. –adverti tirando as cobertas da cama e atirando os lençóis no meio do corredor.
-Ué, não foi este o trato que fizemos? – ela perguntou girando-se na cadeira de rodinhas como uma menina de doze anos fazendo o cabelo voar.
-Como assim?
-De que daqui para frente sempre diríamos a verdade não importando quanto dura sejam as consequências. E a verdade é: Metallica é ruim. –afirmou com um movimento de cabeça como se colocasse um ponto final na questão.
-Metallica é bom. Você achar ruim é apenas o seu gosto. Verdade e opinião são coisas diferentes. –respondi ao mesmo tempo em que abria a porta do guarda-roupa procurando lençóis novos.
-Minha opinião é minha verdade.
Eu sorri.
-Você é uma criança que quer ter a resposta final em tudo. Tudo bem garota, você tem razão, sua opinião é sua verdade. Mas não foi sobre isso nosso trato.
Ela esboçou um sorriso de vitória, mas percebeu que não era bem o que tinha conseguido. Continuei arrumando a cama.
-Quero uma verdade sua então.
-Uma verdade minha? Como assim?
-Quero que me conte alguma coisa. Alguma coisa sobre seu passado, seus pesadelos, ameaças e unicórnios. – ela se virou na cadeira, cruzou as pernas e se apoiou no descanso para costas com o rosto sobre os braços.
-Unicórnios não existem. – eu sorri, ela podia não saber sobre o que estava perguntando, mas sentia que alguma coisa existia, e eu não iria revelar isso tão cedo. – Mas façamos o seguinte. Você pergunta. Eu respondo.
-Tá. – ela sorriu e levantou correndo para cima da cama cruzando as pernas finas e brancas em pose de índia, ainda com os longos cabelos louros desarrumados. – Você é um cafajeste?
Meus olhos estalaram e foi impossível esconder minha surpresa.
-Olhe só este olhar, eu poderia me perder e encontrar uma infinidade de coisas aí dentro.
-O quê?
-Minha prima disse que uma vez você estava com quatro garotas ao mesmo tempo. Ela disse que eu posso ter um passado, mas que você também tem. –ela sorriu, mas o olhar era fixo, tentava buscar a verdade em mim.
-Por que precisa saber sobre isso?
-Como posso amar alguém que não conheço?
-Você já disse que me ama. Duas vezes, está presa comigo agora.
-Eu posso escapar.
-Pare de tentar achar motivos para escapar e fique feliz por estarmos bem. Por que precisa mexer em algo que já não importa mais?
-Então você é um cafajeste.
Suspirei. Sentei na cama frente a ela e segurei suas mãos. Suas brancas e delicadas mãos, menores e mais suaves que as minhas, poderia ter me apaixonado apenas por aquelas mãos.
-Defina cafajeste.
Ela arrancou as mãos das minhas e sua expressão mudou.
-Você está desviando do assunto. – vociferou.
-Não estou, acontece que o conceito da palavra é falho. Sim eu fiquei com mais de uma mulher ao mesmo, mas era solteiro, nunca prometi nada para ninguém e nunca disse as três palavras de sete letras a qualquer uma delas.
-E você gostava?
-Sim.
-Das loiras ou das morenas.
-Loiras, sempre loiras.
-Nunca houve uma morena?
-Uma vez, há muito tempo. Não deu certo.
-Por quê?
-Porque eu gosto de loiras. Isso vai nos levar há algum lugar? –perguntei quase perdendo a calma.
-Você mesmo diz que tudo se resolve com palavras, que guerras poderiam ser impedidas com o correto uso das palavras.
-E poderiam ser começadas pelo uso incorreto.
-Do que você tem medo?
Quis dizer “nada”, quis responder, mas não consegui, não saiu palavra alguma e esta foi a deixa que ela precisava.
-Temos unicórnios cavalgando por aqui não temos?
Suspirei, levantei da cama e me sentei na cadeira de rodinhas frente ao computador, pus tocar Wonderwall do Oasis e me acalmei por um instante.
-Ainda não estamos prontos para essa história. – falei.
-Por que não?
-Porque nosso amor ainda é recente, nosso relacionamento é instável e acabamos de nos recuperar de uma turbulência, você não deveria ter ido tão a fundo com suas perguntas, agora voltamos ao grau de insegurança do início do namoro.
-Eu posso esperar você estar preparado.
-Não sou apenas eu. Somos nós, mas você não vai poder esperar, vai sempre se questionar porque não posso falar. Vai querer saber se é sobre outra pessoa de meu passado e vai pressionar minhas amigas para te contar. Você, mais uma vez estragou tudo.
-Não estraguei nada. Pare de ser tão crítico, tão dramático. Não quer contar não conte, eu posso conviver com isso. Afinal, é comigo que você está agora. Também disse que me ama, está preso a mim.
-Eu só disse uma vez.
-Não importa.
-Não?
-Não, se você nem se abala mais por eu dizer que Metallica é ruim, você está preso comigo e eu presa contigo.
Sorri.
-Eu te amo.
Ela sorriu.
-Empate.
Ah! Pois é...
ResponderExcluirSensação de dejavú. Esta cena me é tão peculiar :P
Heheh bjos
Acabei de ler os três textos da saga, hehehe Me senti vendo um filme de Woody Allen, imaginei até os atores em cena. Muito bom!
ResponderExcluirVai ter a parte quatro, né?! rs
Hum... quando ficcao começa a se misturar com a realidade a gente começa a enlouquecer.
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