quinta-feira, 3 de novembro de 2011

Histórias de Jake - Capítulo XXII

NOTA: Muitos meses atrás eu publicava neste espaço uma sequência de textos intitulados Histórias de Jake. Não sei se vocês, nobres leitores, lembram que jamais publiquei o último capítulo. Pois bem, ele já estava a muito esquecido em minha gaveta (HD), até que resolvi postá-lo. Não tenho esperança que se recordem onde a história parou, mas se for o caso, boa leitura.

Abraços.

[...]

As nuvens cinza de dezembro encobriram o céu logo pela manhã e proporcionaram certo alívio para os moradores da serra, não habituados com altas temperaturas. Toda vez que o termômetro indica 31 graus Celsius é motivo para resgatar as bermudas e regatas guardadas no fundo do guarda roupa a maior parte do ano. O réveillon prometia ser mais ameno e com isso as pessoas sentiam-se mais a vontade, o suficiente para sentar a um pequena mesa e tomar alguns goles de cerveja enquanto colocam o assunto em dia.

Uma mesa em uma pequena lancheria quinhentos quilômetros ao sul de onde ele derramara suas últimas lágrimas. Tornou-se ouvinte de uma conversa não tão a vontade, sua voz estava limpa, sem nós nem tremedeiras, o som de quem já não se fere com suas próprias palavras, sua postura não era elegante, mas confortável, a habitual calça de jeans e uma camiseta verde, no mesmo tom de seus olhos, cobriam seu corpo. Nem tão aconchegante, mas melhor do que estivera em meses. Os dois pares de ouvidos que absorviam suas palavras pareciam lutar contra elas freneticamente, mas derrotados seguidamente estampavam na face de suas portadoras a máscara incrédula de alguém que se nega a acreditar no que escuta.

Ele pegou a garrafa marrom de cerveja pelo gargalo e levou-a até a boca, tomou um grande gole e a depositou sobre a mesa amarela com símbolo da flecha circular.

-Então... O que me dizem garotas? – ele perguntou com um sorriso estampado no rosto cruzando os dedos sobre a barriga.

-Você... – as palavras começaram antes que ela pudesse elaborar a pergunta por completo, foi obrigada a parar e repensar o que ia dizer, por fim... – Você ia ser pai?

-Não exatamente Mary, o filho não era meu. – ele riu e tomou outro gole da cerveja.

A outra garota, com novos cabelos loiros que acabavam de esconder os antigos negros sobressaiu-se com um pensamento e estalou os dedos no ar para falar.

-Foi por isso que você não se moveu quando aquela garota gritou com a Mary, para você uma discussão de duas garotas de colegial sobre quem é namorada de quem nem lhe atinge!

Ele gargalhou ao largar a garrafa sobre a mesa.

-É Georgia, pode-se dizer que foi um ano e tanto.

-Você não deveria ficar tanto tempo sem vir, senti saudades. – Georgia falava com uma ruga no meio da testa e a voz fina, como se implorasse para que da próxima vez não demorasse tanto.

-E o que vai fazer agora Jake? –perguntou Mary.

-Como assim?

-Quatro meses depois de terminar com a Vanessa você finalmente volta para casa, tenho certeza que não foi apenas para rever velhas amigas.

Jake sorriu e olhou para o céu, as nuvens ficavam mais escuras, final de tarde de verão na serra, logo a chuva viria, e esta prometia ser forte. Ergueu o pulso esquerdo frente aos olhos e observou relógio, o vento ficou mais forte e levou embora os guardanapos que tinham sobre a mesa, o sol começava a se esconder. Hora de ir.

Ele levantou-se de um pulo e virou-se contra elas na direção da saída, as garotas não pareceram surpresas, depois de tantos anos pouco sobre um surpreendia o outro.

-Mais astuta do que sua aparência mostra, como sempre Mary. Tem razão, eu vim por um motivo maior.

Antes de sair ele olhou sobre o ombro e elas enxergaram seu olho direito destoar da camiseta verde. Viram aquilo que poucos tinham visto antes, a mudança de cor de seus olhos do verde para o castanho mel.

-Eu vim por uma garota.

Deu as costas e saiu.




As mãos dentro dos bolsos da calça jeans e os olhos acompanhando a ponta dos pés deixando a calçada para trás. Caminhava sem olhar por aonde ia, mas com plena convicção do lugar onde iria chegar. O vento ficou mais forte e o empurrava para trás, cada passo era uma batalha, como um aviso para que não fizesse o que estava prestes, sentia em seu peito aquela mão familiar e voz em seu ouvido dizendo para ter cautela. Não seria necessário, com estes olhos, sempre conseguiu ir até o fim e dizer o que precisou, aquilo que deixava alojado em seu coração sem forças para expor, foi assim com Vanessa, seria assim agora.

Ergueu a cabeça e a enxergou no final da rua, na esquina que haviam combinado, na mesma esquina que sempre combinaram. Os cabelos dourados dela estavam um pouco mais longos, mas não tão claros como estava acostumado, a postura era a mesma, tal como a bolsa com o chaveiro de orangotango. Quantas vezes esperou? Sonhou com este momento, quanto tempo esperou e por quantos quilômetros se distanciou para que tivesse forças de vê-la novamente?

Milhares de palavras amontoaram-se para sair ao mesmo tempo por entre seus lábios, o coração bombeou mais sangue do que suas veias jamais sentiram existir, pode sentir suas articulações vacilarem na incerteza do que aconteceria deste instante em diante, mas quando chegou perto ela já estampava um sorriso e mantinha os braços abertos.

Ele a abraçou, a abraçou da mesma forma como abraça qualquer uma de suas amigas, da mesma forma que abraça aquelas que vê todo dia, apenas como mais uma vez, e ao lado do ouvido dela passou por seus dentes seu primeiro suspiro de alívio. Ele enfraqueceu os braços para soltá-la, mas ela continuou segurando-o com força, um abraço quente e demorado, gesto de despedidas, de dor ou de amor, gesto especial que não se repete todos os dias, ela não o abraçou com a mesma indiferença, ela passou a ele seu carinho.

-Oi Jake. – ela falou em voz baixa e então o soltou, encarou o chão antes de encará-lo com olhos mesclados, aquela mistura de verde e azul que ele jamais foi capaz de esquecer.

-Juliet. – não foi capaz de unir palavra alguma ao nome. Era estranho dizê-lo novamente, durante todo esse tempo não se referia a ela pelo nome, apenas por adjetivos, apelidos e se esforçara o máximo possível para mantê-la longe de seus pensamentos.

Ela sorriu. Um rápido sorriso que sempre serviu para mascarar alguma emoção, não importava qual fosse, frustração alegria, dor, raiva, se houvesse algo de seus sentimentos que ela não quisesse revelar, aquele breve sorriso a delatava.

O céu brilhou e o barulho do trovão o seguiu alguns segundo depois dando início a uma fina chuva que os despertou do transe. Ele sorriu como se finalmente percebesse que estavam parados frente a frente em meio às pessoas que caminhavam na calçada há algum tempo.

-Podemos conversar no caminho Juliet, eu a acompanho até em casa.

Ela não respondeu com palavras, apenas cruzou os braços frente ao corpo e acenou a cabeça positivamente, ficaram lado a lado e seguiram pela calçada. Durante mais de meia quadra o único som que ouviram era o dos motores dos carros que passavam na rua ao lado e os finos pingo de chuva na calhas das lojas. Em singulares momentos, sorrisos e risadas baixinhas escapavam de suas faces em lembranças simultâneas do passado, as lembranças que eles escolheram manter.

-Um ano e meio. – ele quebrou o silêncio e também os pensamentos dela, o rosto girou esvoaçando em câmera lenta os cabelos dourados e revelando o espanto na face pálida da garota, ela sabia o que significava esse período que ele dissera.

-Um ano e meio desde que eu fui embora e desde aquela vez eu penso em como seria te encontrar novamente. Eu idealizei dezenas de cenários, os mais variados possíveis. Mas eu devo admitir que jamais pensei que ficaríamos sem nos falar quando estivéssemos juntos.

Ela deu uma risada um pouco mais exaltada do que as anteriores, mas não o suficiente para barrar o som da chuva e chegar aos ouvidos dele.

-Também pensei sobre isso várias vezes. – ela admitiu encarando o chão.

Ele sorriu.

-Acredito que seja porque temos tanto a dizer que nem sabemos por onde começar, então eu vou tentar dar uma ajuda.

Ela não se moveu nem proferiu palavra alguma, apenas deixou os ouvidos mais atentos.

-Vim até aqui para poder romper essa barreira que existe entre nós. Sejamos francos, nenhum de nós deseja o mal para outro, estamos frustrados e arrependidos pelo o que fizemos, mas não acho que devamos pedidos de desculpas, não vim aqui para escutar isso de você e tão pouco para pedi-las.

Os lábios dela se separaram, mas ele ergueu a mão para impedi-la. O semáforo havia fechado e um carro passara rápido demais para parar. Ele a segurou enquanto o Santana bordô atravessou na frente dos dois e desapareceu na reta por detrás da cortina de chuva que ficava mais espessa agora.

-Com o tempo aprendemos, deixamos de ser crianças birrentas e aprendemos a perdoar, ou pedir perdão. O que aconteceu já não pesa mais sobre meus ombros, eu me libertei do que sentia sobre você, me libertei daquela raiva e daqueles sentimentos confusos, vim até aqui para lhe dar a oportunidade de fazer o mesmo. Então seja lá o que for que você queira dizer para mim, o que quiser perguntar, reclamar, gritar ou julgar, faça-o, hoje, agora, é chance que você tem de descarregar isso.

Ele olhou para cima ainda parado na sob o semáforo e fechou os olhos, ficou sentindo a chuva lhe bater contra o rosto e acalantar seus pensamentos.

-Não é justo eu sei. E talvez você tenha medo de dizer o que pensa por receio de me ferir. Eu fiz esta viagem especialmente para isso, porque sou o único que pode aguentar tudo o que você tem a dizer, e o único que vai te entender.

Estavam a meio caminho de casa agora, sabiam que o tempo se esgotava, sem trocar palavras ela sabia que ele jamais aceitaria um convite para entrar, e ele compreendia que ela não faria um convite devido ao namorado. Voltaram a caminhar e o suspiro que ela soltou deu espaço à coragem que forçou suas palavras para fora.

-Eu não gostei nem um pouco do que você disse sobre a forma que eu e o Judas ficamos naquela festa estranha. Ficou parecendo que eu me joguei para cima dele e me deixou com uma imagem de... – ela hesitou por um instante e então deixou sair. – Uma imagem de puta.

Os olhos dele não puderam esconder o espanto, diante de tudo o que ele imaginou que ela pudesse culpá-lo, pudesse sentir raiva dele, a maneira como a tratou no dia do aniversário, o dia em que colocou o namorado dela contra a parede e o ameaçou, a forma repentina como foi embora, a não ligação no último aniversário, todas foram situações que ele acreditava tê-la ferido. Mas esta, a mais distante de todas jamais havia lhe passado pela cabeça, julgava ter sido o momento em ele próprio se retirara de joelhos da batalha e mesmo assim, sobre aquele dia tudo que ela pensou foi... nela?

-Eu contei aquilo que aconteceu Juliet. –sem mais discursos, não havia se preparado para isto.

-Você contou o que você acha que aconteceu, aquilo que era verdade para você! Mas fique você sabendo que eu não me joguei para ele, ele me puxou e depois... – ela parou por um instante - aquela não tinha sido a primeira fez que ele e eu tínhamos ficado.

Uma corrente elétrica atravessou seu corpo e agora ele se perguntava se agira certo em ter vindo, se questionava se havia mesmo superado os sentimentos do passado. Tentou sorrir ao dizer.

-Eu não vim aqui para julgar ou para contestar o passado Juliet. A forma como aconteceu já não faz mais diferença, mas para você saber, Judas e eu nunca conversamos sobre o que aconteceu naquela noite, apenas seguimos com a nossa amizade, nós cinco, o quadrado mágico jamais deixamos uma mulher se meter no meio da nossa equipe. E outra coisa, eu apenas fiquei sabendo que você dois já haviam ficado antes, agora que você está me contando.

Os cabelos louros escurecidos pela água da chuva e agora colados nas laterais da face dela não foram o suficiente para disfarçar o tamanho do espanto que seu rosto trazia, provavelmente não sabia que o que acabara de dizer seria novidade para ele, mas incrivelmente ele não demonstrava frustração alguma.

-Pronto, uma já foi Juliet, agora a próxima, pode falar.

Ela voltou a caminhar encarando os pés e colocou o cabelo atrás da orelha com a mão direita. Ficou um pouco em silêncio, sentindo a chuva fina que caia rapidamente bater contra seu rosto.

-Naquela noite. Na noite em que você foi embora, você conversou com o Edu não?

Este assunto ele sabia que iria ser mencionado, mas ainda não havia decidido o que responderia quando ela chegasse a ultima pergunta.

-Sim, eu conversei com seu namorado.

Ela afirmou com a cabeça como se fizesse o raciocínio por partes.

-E... – uma pequena pausa, buscava a melhor forma de continuar - e você disse que tinha visto ele em uma festa, e que ele estava com uma garota, que você os viu se beijando.

Ele sorriu em uma maneira de evitar demonstrar o quanto julgou infantil Eduardo ter mencionado isso a ela.

-Sim, eu falei isso, e também pedi para ele não te contar, perderia todo o sentido se ele fizesse. Mas é claro que eu não podia confiar nele.

Juliet abanou a mão como se pedisse para ele parar de falar e continuou.

-Olha Jake. Traição é uma coisa que eu não suporto. Eu não sei por que você disse isso para ele, eu não sei por que você fez o que fez, ele me disse que isso era mentira e que ele acha... –ela parou, hesitou e então mudou o rumo das palavras- Eu quero saber se isso que você disse era verdade.

Ela parou de caminhar, a casa ficava na próxima esquina e esta era a resposta que ela tanto queria, parou de caminhar para forçá-lo a responder. Jake deu mais alguns passou e então virou para trás para encará-la, mantinha as mão nos bolsos e sentia todo o resto do corpo encharcado pela chuva, suas roupas colavam na pele inteira, ele falou, mas não o que ela queria escutar.

-O que ele acha Juliet? Qual a teoria dele sobre o porquê eu fiz isso tudo.

Ela quis avançar novamente e acusá-lo de desviar do assunto, mas ela conhecia quem estava falando, sabia como funcionava seus pensamentos e que ele não estava desviando, estava fechando o cerco, testando todas as possibilidades, ela respondeu.

-Ele acha que você que nos separar. Que você quer acabar com o meu namoro.

Jake encarou o chão como se estivesse cansado, exausto de tentar fazê-la entender.

-E é isso que você acha também? Diga-me, é por isso que você acha que eu fiz tudo o que fiz?

Ela balançou a cabeça para os lados.

-Eu não sei. Eu não sei Jake. – as palavras quase se tornaram turvas e seus olhos ficaram marejados.

Jake virou para frente e voltou a caminhar, atravessou a rua parou sob a grande árvore da esquina, o tão familiar Pé-de-platano que habita estas terras há mais de cinquenta anos, o tronco largo que precisaria de três pessoas para abraçá-lo e a copa gigantesca que não permita que a água atravessasse. Escorou-se no tronco de madeira clara e então olhou para ela, havia sido seguido e agora ela estava a dois passos de distância, protegida da chuva pelos galhos da arvore gigantesca.

-Me responda Jake, e verdade o que você disse? Ele mentiu para mim e realmente estava com outra garota? Não é uma pergunta tão difícil é?

Em verdade nada de simples tem essa pergunta Juliet. Dizer que eu menti pode lhe deixar aliviada e permitir que você continue sua vida da maneira como está, e assim eu cumpriria meu propósito. Dizer que é verdade implicaria no termino de seu namoro e na remota possibilidade do meu perdão e total compreensão, mas talvez eu me tornasse alvo da sua ira e jamais poderia tê-la para mim. É um conflito de valores e desejos, um conflito de amor e ambição, em qualquer uma das respostas alguém sairá perdendo, a escolha cabe em decidir quem eu vou deixar no chão. Nada tem de simples...

Ele a olhou no fundo dos olhos, através do verde e do azul enxergou o fundo de sua alma, o símbolo que os representava, o símbolo da jornada dos dois juntos, ele o conhecia muito bem, e sabia o que aquele cavalo com chifre significa.

-Não Juliet. Não era verdade, eu menti.

Ela soltou um grande suspiro de alívio e sua face esbanjava as palavras que não quis proferir: “Eu sabia!”

-Então por que você disse? Por quê?

O tom de voz dele subiu pela primeira vez.

-Porque eu me importo com você, porque eu quero que você seja feliz.

Ela ergueu a voz também e rebateu.

-Isso não é responsabilidade sua! Minha felicidade não é responsabilidade sua!

-É claro que é Juliet! – ele falou antes de pensar no efeito que a frase teria.

Ela parou de falar, segurou os braços e perguntou em voz baixa.

-Por quê? Por que é responsabilidade sua?

-Porque eu... –ele vacilou, há muito se preparava para dizer isso, para confessar isso a ela, há tanto tempo espera para dizer as simples três palavras, breves sete letras, mas elas não saíram, ele largou os braços ao lado do corpo exausto, inventando uma nova série de palavras. – Porque eu gosto de você.

O silêncio os domou e nada foi dito durante segundos intermináveis, ficaram parados um de frente para o outro negando a se encarar. E pela primeira vez, foi ela quem começou.

-E agora?

Ele a olhou, esperando o resto da frase.

-O que acontece agora Jake?

Ele se pôs firme novamente e puxou o ar para continuar falando.

-Quer que eu seja sincero quanto a o que eu acho que acontece Juliet?

Ela apenas afirmou com a cabeça.

-Eu acredito que nos terminamos aqui. Eu moro em outra cidade, distante, tenho minhas obrigações e não tenho mais razões para voltar. Você vai se mudar logo em breve e nosso contato será cada vez menor. O que eu acho é que nunca mais iremos nos encontrar.

Ela pressionou os braços ao lado do corpo e jogou a cabeça para frente, queria que os cabelos lhe escondessem o rosto para que ele não visse as lágrimas que se formavam, mas ele conhecia demais esse gesto, ela o tinha feito na última vez em que se viram. Ele se aproximou dela, mas ela não hesitou, não recuou e deixou que ele viesse. A abraçou, a abraçou com força e com calor, não aprecia um corpo gelado por toda a chuva que pegaram, estava quente e ela podia jurar que era brilhante, uma energia quente. Logo ela se sentiu revigorada, menos infeliz e preparada para tudo. Ele a soltou, trocaram olhares, e ambos sorriram. Ele se aproximou mais uma vez e ela manteve-se firme. Ele a beijou, ambos fecharam os olhos e a chuva não permitiu que ninguém visse as pequenas lágrimas que derramaram. Os lábios dele abandonaram a testa dela, a beijara bem no centro a testa abaixo dos cabelos molhados.

-Adeus Juliet.

Ela abriu a boca e sugou o ar para falar, com certeza ainda havia algo para ser dito, mas ela não conseguiu pensar em nada, ele estava certo, este era o único dia que teriam para se falar, e esgotaram tudo o que tinham.

-Tchau... Jake.

Ficou parada sob o pé de plátano frente a sua casa, vendo-o ir embora na tarde cinza de quinta feira chuvosa, esperava que talvez ele olhasse para trás mas isso nunca aconteceu, quando estava longe que mal podia vê-lo, deu as costas para a árvore e entrou em casa, escorou-se contra a porta de mogno e se deixou escorrer para o chão, seria uma longa noite.

Jake rumou pelo meio da rua de calçamento mal feito sem jamais olhar para trás e assim resistir a tentação de voltar. Mantivera as mãos no bolso para suportar o frio que voltara a sentir depois de tanto tempo. Passara a luz que herdara naquela fatídica noite, a energia que Natasha lhe transferira para que suportasse as provações que se seguiriam. Agora que sobrevivera às suas tarefas estava na hora de passá-la para alguém mais necessitado, e Juliet era a escolha certa, agora que decidira deixá-la vivendo com outro homem e desfrutando o maior tempo possível desta alegria, sabia que quando tudo viesse à tona, ela precisaria ser forte, precisaria desta luz e deste calor que acabara de receber.

A rua de tijolos cinza conduzia para lugar nenhum, já não se sentia parte deste lugar e perdera a única razão pela qual sempre voltava. Meio a chuva fria que agora refrescava seus pensamentos pode ver novamente a imagem daquele cavalo com chifre no centro da testa, a imagem que viu quando olhou dentro da alma de Juliet, a imagem que o fez tomar sua decisão.

“A imagem do unicórnio está associada à pureza e à força, seres incrivelmente dóceis que representam o maior desejo do homem, quando personificados são simbolos do amor impossível, um nêmesis que o caçador jamais poderá capturar.”

-“Adeus, Juliet.”

Um comentário:

  1. Meu Deus! Lendo todos os capítulos em 3... 2... 1... AGORA!!

    Li alguns no começo, mas não terminei ainda...

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