Quinta feira não é dia de trabalhar. Meu ódio crescente com a quinta feira vem dos primórdios da faculdade. Deve ser alguma coisa com a classe, ou com universitários, ou simplesmente com a minha mente doentia. Fato é que nas quintas feiras as coisas acontecem, ou deixam de acontecer (o que poderia ser em qualquer dia da semana), mas é tão preciso quanto o horóscopo de um jornal semanal.
De qualquer maneira, na quinta feira eu não tenho vontade de fazer coisa alguma, uns trinta graus lá fora e meus colegas e eu estávamos na redação, com o ar condicionado em 22ᵒ, tomando um ótimo sorvete napolitano comprado em vaquinha. Vidademerda. Todos com trabalhos por fazer sem nem ao mesmo se importar quando eu olho fixamente para a colher de prata do sorvete e indago em alto e bom som.
"Por que o reflexo na colher fica de cabeça para baixo?"
Cabeças se ergueram, olhares me fuzilaram, alguns não escutaram ou ignoraram, e nem ao menos recebi uma resposta. Sim, era uma pergunta retórica, um breve exercícios para colocar minha preguiça em forma. Mas foi realmente frustrante. Sim, eu fiquei magoado, eu sou um jovem solitário carente de atenção. Mentira. Tenho certeza que foi apenas por orgulho que se calaram, aposto que estavam rindo internamente.
Deixa pra lá, vou tomar outro sorvete.
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