sexta-feira, 13 de novembro de 2009

Histórias de Jake – À Beira do Abismo

Fica longe dela.

No início Ele até pensou que poderia ser uma conversa civilizada. Mas em seguida se deu conta que não. O cara era tão psicopata e desumano quanto imaginara. Não. Era pior. Muito pior.

Fica Longa Dela!!!

O psicopata agora dirigia em alta velocidade. Ele, sentado no banco do passageiro usava de todas as suas forças para manter a lucidez, para escolher as palavras, sabia que não era qualquer coisa que poderia dizer ali, e sabia que nem tudo que escutava era verdade.

Este é um aviso. Fica, longe, dela.

Ele rodeava a aliança de prata no anelar direito, mania que pegara nos últimos meses. Nunca havia usado uma aliança, quando decidiu colocá-la no dedo de alguém, este foi o resultado, agora o psicopata segurava o volante com uma mão e com a outra balançava com raiva no ar a outra aliança de prata, a que formava par com a sua.

FICA LONGE DELA!

Ele apenas olhava, tentava processar o que acontecia ali, mas as coisas eram rápidas demais,

tudo com Ela acontecera rápido demais, nunca tiveram tempo para pensar direito no que estavam fazendo, e agora... agora esse lunático estava dirigindo um carro em alta velocidade pelas ruas mais movimentadas da cidade ameaçando tirar sua vida.

Como foi que isso tudo aconteceu?

Como isso começou?



Não assistiu à aula naquele dia. Precisava pegar um ar, e a garota que começara a estudar com ele agora lhe parecia uma boa companhia, tinham certa sintonia, as conversas eram aceleradas, sempre com muito a contar, mas ela nem sequer poderia imaginar o que ele contaria nesta noite. Sentaram-se na lanchonete da faculdade, ela pediu um mini xis, ele não iria comer, não comia na faculdade, mas uma Coca-cola... uma Coca-cola sempre vai bem.

-Qual é o número que você quer que eu ligue? -ELA perguntou.

-Este que está aparecendo aí no visor.

-E por que você mesmo não pode ligar?

-Bem... é porque...

Ele pensou se deveria contar a verdade, ficou realmente em dúvida porque essa não era uma história que se sai contando aos quatro ventos, o tipo de coisa que é melhor ficar em segredo com uma única pessoa. Mas... essa nova amiga parecia ser tão confiável, essa amizade estrogonoficamente maravilhosa como ela mesmo dizia, que ele achou melhor falar, e até lhe faria bem falar, uma razão porque não agüentava mais trazer isso apenas consigo e outra por sua masculinidade, precisava contar, queria contar.

-Ela é casada.

-COMO?!?!?!

-Não! ERA. Era casada.

-Como assim era casada?

-Como assim como assim? Era. Não é mais. Largou do marido, arrumou as coisas, pegou a filha e foi embora.

-Espera aí?! FILHA?!?!

-Sim, sim, uma filha. Ela tem uma filha. Por isso eu não quero ligar, se eu ligar para ela e outra pessoa atender. O irmão, a mãe, e se o psicopata do ex estiver com o telefone, e se a menina atende.

-Não. Eu não estou entendendo nada! Você vai ter que me contar como isso aconteceu. Vai ter que me contar como você está saindo com uma mulher separada que tem uma filha.

-Desde o início?

-Sim, desde o início.

Começou como uma brincadeira. Uma provocação. Eles eram colegas de trabalho naquela época. Trabalhavam juntos há meses. Ele tinha seus afazeres, suas garotas, A garota das Fadas, a Santinha, a Loira de peito estufado que estivera junto no dia em que batera o carro do amigo. Nunca havia pensado na colega de trabalho de uma forma diferente, e não sabe bem quando foi que isso mudou, nenhum dos dois saberia dizer exatamente como começou. Não. Saberiam dizer sim. Começou errado.

As provocações sobre sexo são comuns entre adolescentes. Ela era mais velha, mãe de uma menininha de cabelos cacheados, mas ainda era uma adolescente, e às vezes menos que isso.

-Você não daria conta. –ela disse, sentada atrás do caixa no local de trabalho.

Ele sorriu e respondeu:

-Você está separada há tanto tempo e querendo tanto isso, que quando nós fizermos vai acabar rapidinho.

Ela deu um olhar seco para ele, como se tivesse se ofendido.

-Quem vai com muita sede ao pote acaba se lambuzando demais.

Ela não gostou, mas não argumentou. Por concordar ou por achar melhor que ele continuasse pensando assim.

Foi em uma terça feira.

O plano foi meticulosamente traçado.Os horários de almoço, as desculpas, as saídas. Ninguém suspeitou, e mesmo que tenham deixado um caminho de migalhas para trás, ninguém as enxergou, durante certo tempo tudo foi muito bom e muito fácil.

Deitaram-se. Não estavam sós. Uma colega já estava deitada –tinham um lugar para deitar e descansar no horário de intervalo. No plano não deveria ter alguém ali, mas isso não mudou muito. Deitaram-se frente a frente, ele de costas para a outra colega que dormia como uma rocha. O coração de ambos batia rápido. Nenhum tomava a iniciativa. Aproximavam-se, mexiam-se lentamente para unir os corpos, respiravam lentamente, ele tentava conter-se, conter a velocidade de entrada e saída de ar, a velocidade que o coração pulsava, mas não era possível, sentia-se estranho, não era assim com as outras, não tinha receios, dúvidas com as outras, era natural, mas ali... ali era assustador.

Ela o beijou.

Um beijo molhado, encostando primeiro o lábio inferior, fazendo-o se aproximar para depois unirem os rostos.

Neste dia foi apenas um beijo. Um beijo e a fala dela que ele jamais esqueceria, nem compreenderia por completo suas razões.

“Não acredito que eu estou fazendo isso.”

-Ela disse isso?! –exclamou a Amiga batendo na mesa da lanchonete.

Ele tomou um gole da Coca-cola e meneou a cabeça.

-Mas ela disse isso por não acreditar que estava ficando com um cara mais novo, se estava fazendo isso com outro cara que não o marido...

-EX. –ele acrescentou.

-Sim, sim, ex marido. Ou Por estar fazendo isso COM VOCÊ?

Fez um movimento de lado com a cabeça, como se não soubesse a resposta mas não tivesse interesse de saber.

-Não saberia dizer ao certo.

A amiga ainda comia, agora era alguma coisa com queijo e um cheiro estranho.

-Bom, e daí? O que aconteceu depois?

Ele tirou os olhos da latinha vazia de Coca...

-Depois???

Abriu um leve sorriso.

-Depois veio o final de semana.


...continua


Um Grande Abraço
Diogo S.Campos

2 comentários:

  1. Depois é só juntar e publicar o romance...
    Abraço, camarada!

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  2. hahahahá.. realmente.. sua amizade é estrogonóficamente maravilhosa, afinal não é todo o dia que vc dança loucamente com uma pessoa apenas por um rosto familiar.. como vc disse.. agora em minhas palavras, inspira muita confiança, desde o primeiro dia :D
    sim eu empresto o celular e eu me preocupo com vc.. porque eu sei que conquistei uma amizade pra uma vida toda.. uma amizade pra durar e só fazer bem. Obrigado pelo amigo de milhões de qualidades, pela sua sinceridade, pela sua inteligência, por confia em mim e por me deixar confiar em ti! E me desculpa pelo pouco tempo que temos um pro outro agora ;xx Gosto muito de você e você sabe que pode contar comigo sempre! Beijos e obrigada pelo post *-*

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