terça-feira, 8 de março de 2011

Minha Nova Namorada II

-Por favor, deixe-me as sós com ela. – eu pedi educadamente em uma voz muito mais agressiva do que passiva. O casal de amigos acabara de proferir palavras que ninguém gosta de escutar. Pedi que se retirassem porque precisava tirar a prova do que haviam me contado, e se eles estivessem presentes eu não conseguiria.
Foram para a sala de estar, dando passagem para ela que acabara de chegar, fecharam a porta quando passaram após um breve cumprimento e beijinhos de boas vindas. Quando entrou, ela me olhou e esboçou seu característico sorriso fino, entrou flutuando como de costume, leve e graciosa. Levantei e dei as costas, abri a geladeira e peguei uma cerveja.
-Precisamos conversar. – falei. Como seria óbvia a expressão de qualquer outra pessoa. Uma garota comum teria estranhado um homem pedir para discutir a relação, mas ela não, ela já havia compreendido a extrema necessidade que tenho de falar, a absurda mania de tentar ter tudo sob controle. – Sente-se.
-Sobre o que é hoje? - ela perguntou passando a mão pelos cabelos em uma nada sutil demonstração de chateação. Entreguei um copo e o enchi com a cerveja, servi outro para mim e sentei a mesa.
-Eu quero saber o que somos. – falei.
-Como assim?
-Eu quero saber o que nós dois somos, para que assim eu possa assumir uma postura e conversar contigo da maneira correta.
-Isso é outra daquelas suas histórias com introdução que você sempre jura que vão levar a um ponto? Porque eu realmente estou cansada disso. – ela disse e ergueu o copo, tomando um longo gole que o secou em mais da metade.
O discurso dela quanto a minha objetividade era sempre o mesmo. Assim como eu sou sempre o mesmo. Mudar é sempre complicado, mas eu tentava.
-Me disseram que te viram com outro cara. – ela parou de encarar o copo e olhou para mim. Eu me escondi atrás de um longo gole, mas foi inevitável encarar o olhar seco dela.
-Quem disse?
-É irrelevante. Já pedi para que não se metessem, isso não diz respeito a vida deles, mas à nossa.
-Indiferente. Você acreditou, não acreditou? Mesmo que não diga respeito a eles, parece que você prefere acreditar neles a me dar um voto de confiança.
-Eu lhe dou confiança, o problema é que sem saber o que nós somos não existe como saber o que devo fazer agora. Nunca conversamos sobre isso.
-Essa sua mania de sempre querer conversar sobre tudo. Isso realmente me cansa, quem sabe uma vez ao menos você deixa para lá.
-Eu não posso deixar para lá porque eu sei quem você foi, o que você fazia, eu vivi aquela vida com você e sei do que você é capaz. Não me peça para confiar em alguém que me disse a vida inteira não ser confiável. – falei, e ela estagnou, por um momento perdeu a voz.
-Você sabe que eu sempre brinquei quanto a isso.
-Indiferente. Sabe o valor que dou para às palavras, e dificilmente se consegue ver a intenção por trás delas.
-Então veja meus atos, nunca fiz nada para magoar você, pelo contrário, sempre dei o máximo de mim para fazer essa relação dar certo.
-Ficando com outro cara por aí? – perguntei, mas não queria ter perguntado, escapou por entre meus dentes. Ela recebeu como um soco no meio da face. Eu me escondi atrás do copo, um movimento tolo, meu copo já estava vazio.
-Você é um idiota. Cada vez que temos essas conversas você acha que nos aproximamos de um relacionamento perfeito aonde vamos nos entender completamente. Mas a verdade é que a cada uma dessas conversas você me cansa mais, e mais próxima eu fico de colocar um fim em tudo.
- Parece ser isso que você está querendo.
-Cale a boca. Eu vim toda arrumada e você nem sequer foi capaz de elogiar meu vestido novo. Eu passei o perfume que você gosta e coloquei a gargantilha que me deu, mas tudo no seu mundinho de cinco segundos diz respeito ao caso que eu estou tendo. Eu vim aqui para ficar com você porque já disse mais de uma vez que é isso que quero.
-Também é o que eu quero, mas eu apenas ainda não sinto isso, nós nunca...
-Nunca dissemos formalmente que somos namorados? Pelo amor de Deus, você e essa mania de rotular e organizar tudo, nós nunca dissemos que somos namorados porque eu dormi na sua casa no primeiro encontro e trocamos euteamos após a primeira transa. Isso não foi claro o suficiente para você? – ela esvaziou o copo, bateu forte contra a mesa e o encheu novamente.
-Então somos namorados? – perguntei sem poder esconder o sorriso no rosto. Mas ela não sorria, ela me lembrava outras faces que já vi após conversas do mesmo tipo. Exauridas.
-Você entendeu o que eu te disse? Eu te disse que não está mais dando certo, eu te disse que você me cansa, que você se importa com coisas que não deveria.
-Lembra uma vez que você tentou explicar como era nossa relação? E por mais que nós dois estivéssemos bêbados eu lembro que era algo sobre dois relâmpagos colidindo e se tornando um só. – ela parou com a expressão de cansaço e começou a ouvir a espera daqueles desfechos que já estava acostumada a ouvir. –Então eu comentei que você ainda era muito nova, que se cansaria com facilidade. Ninguém disse que seria fácil viver comigo, e eu sempre soube que não é fácil viver com você. Assim como você lida com o branco que é meu passado e ocupa-se com meu desastrado presente. Eu me preocupo com o seu turbulento passado e as influências que ele ainda tem sobre você.
-Você... – ela parecia prestes a explodir, mas conteve-se. – Você pensa demais. Você analisa demais, fala demais, você me irrita com a quantidade de vezes que faz isso comigo e sempre me faz acreditar em você. Eu odeio todas as vezes que já me provou que está certo, e por mais que eu deteste admitir, quanto mais eu te odeio mais eu passo a te amar.
-Então você ficou com outro cara? – voltei à pergunta inicial.
Ela suspirou.
-Fiquei.


P.S. Nobres leitores. Estou dando continuidade a estes textos apenas porque achei os primeiros realmente engraçados, não se trata de uma série e tampouco é uma história real, apesar de eu me valer da 1ª pessoa para escrever. E caso alguém já tenha notado, sim, Closer é meu filme favorito. =D

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