quarta-feira, 30 de março de 2011

Minha Nova (ex) Namorada

-Onde que chuta? No quadrado? – perguntei.

-Não existe quadrado nesse controle, é um Xbox 360. – respondeu o noivo da minha amiga, dono do vídeo-game e orgulhoso por me vencer em jogos de futebol, sim, a mim que não jogo esse tipo de coisa há mais de cinco anos.

-Dá um desconto para ele, ele não joga mais esse tipo de coisa há mais de cinco anos. – disse a garota que parecia começar a compreender meus pensamentos, e quanto mais ela me conhecia mais isso me assustava, eu começava a abrir uma porta que já estava trancada há muito tempo.

Ela sentou ao meu lado, não na cama como estávamos, mas no chão, escorada ao lado de minhas pernas. Usava uma camiseta que eu lhe dera de presente uma duas semanas atrás, branca e larga, com uma estampa que misturava manchas de tinta e óculos de sol com os dizeres “Looking good” repetidos e espalhados por todos os lados. Ela disse que gostou, me disseram que ela gostaria, mas eu ainda tinha minhas dúvidas.

-Perdeu bichinha, esse teu colorado aí não serve pra nada, é uma bichera! – zoou meu adversário. Nós sempre jogávamos Flamengo contra Internacional. Eu sempre perdia, quando empatava zoava muito da cara dele, nos comportávamos como meninos de doze anos enquanto jogávamos vídeo-game. Inclusive em alguns momentos esquecíamos que tínhamos namoradas, o que as forçava a fofocar no canto do quarto. –Vamo otra bicho? – ele perguntou.

-Talvez depois, vou dar uma atenção ali agora. – respondi meneando a cabeça em direção a loira com o laptop Dell sobre as pernas. Nem mesmo havia percebido que ela saíra do meu lado. Levantei, caminhei até o outro lado do quarto e me sentei junto dela.

A tela do computador mostrava a área de trabalho, com janelas minimizadas e o papel de parede de True Blood. Duas coisas eu sabia. A primeira era que aquele não era o computador dela, ela prefere vampiros bonitinhos como os de Crepúsculo ou Diários de Vampiros. E a segunda era que ela me escondia algo. Quando se usa um atalho de teclado para minimizar tudo rapidamente, você está escondendo alguma coisa. Sabia disso porque eu mesmo faço isso.

-Estava falando com quem? – perguntei.

-Com ninguém. – ela respondeu rapidamente, automaticamente. Não precisei perguntar de novo, ela enxergou minha sobrancelha erguer e sentiu o suspiro que saiu de meu nariz, também não pode esconder o brilho laranja no Messenger piscando na barra de tarefas.

-Com ninguém importante. Só um amigo. – ela disse fechando a tela do notebook e levantando do chão para sentar na cama de frente para mim.

-Sabe por que eu não acredito em você? Porque eu fazia a mesma coisa. Usava das mesmas desculpas quando tinha a sua idade, e por mais que eu quisesse manter a fidelidade, gostava de ser bajulado. Gostava de receber elogios e, sobretudo, adorava flertar.

-Você está dizendo que eu estou te traindo de novo? É disso que você está me acusando? – ela aumentou o tom da voz, acusou a mim e me forçou a pedir desculpas, eu já conhecia esse movimento, eu faço esse movimento. O tempo todo.

-Palavras suas, não minhas. É claro que eu sei que não posso controlar isso, você é linda, uma loira linda como poucas das que conheci, e de certo ponto de vista bonita até de mais para andar com alguém como eu. Tenho certeza que seus amigos se perguntam entre si, isso quando não perguntam diretamente para você: “O que foi que ela viu naquele cara?”.

Ela cruzou os braços, olhou para lado. Pensou um pouco e se atirou de costas na cama com os braços abertos. Ficou deitada encarando o teto. Foi o momento em que acenei a cabeça para meu amigo dando a ele a deixa de sair do quarto, coisa que ele já deveria ter feito há algum tempo. A saída dele impediria a entrada de sua noiva, minha melhor amiga, no recinto. Argumentar com uma mulher egocêntrica já difícil, argumentar com duas...

-Você tem que parar de me comparar com casos do seu passado. Eu sei que você é mais velho do que eu, e se acha mais maduro. Mas isso está me enchendo o saco, por mais que você tenha falado para a minha prima que eu me pareço muito com sua ex-namorada eu não sou ela. E você tem que parar de me tratar como se eu fosse.

Sorri, sorri no lugar de gritar, não estava na minha casa e isso não me parecia correto, não sou de estourar, mas quando se tem a confiança traída fica difícil se manter nos trilhos.

-Está difícil se arrumar melhores amigas. De qualquer maneira eu não te trato como tratava ela. Se fosse o caso já estaríamos gritando, eu teria saído pela porta da frente ou se estivéssemos em minha casa teria mandando você não deixar a porta bater em seu grande traseiro mentiroso quando saísse. – ela estalou os olhos e me encarou, brava – mas como eu disse: você não é ela, eu não a trato daquela maneira e não lhe diria isso.

-Mas você acabou de dizer. – ela ergueu a voz novamente.

Suspirei, cansado da conversa que como sempre, eu havia começado.

-Vou ter que repetir tudo?

-Não! -ela disse se levantando, e caminhando até a porta do quarto. – Eu vou sair sem deixar a porta bater no meu grande traseiro mentiroso. E só para você saber, é o botão vermelho, o B, que serve para chutar.

Ela saiu do quarto. E pude ouvir a porta da frente bater quando ela passou. Acreditava que não era o fim, apenas mais uma crise, como as várias que tivemos, comecei a me perguntar se todo esse stress valia à pena. Não pude terminar os pensamentos porque minha amiga, de cabelos morenos recém cortados entrou no quarto.

-O que aconteceu aqui? – ela perguntou.

-Belo corte, ficou bonito. Te deixou mais jovem, eu gostei.

-Obrigada. – ela disse com a face seca, o olhar duro de alguém que julga antes de saber dos fatos. – Eu perguntei o que aconteceu, você começou outra discussão não foi? Você vai ferrar com o namoro de vocês. Tem que dar espaço a ela, por que precisa sempre tentar ter razão e saber de tudo?

Eu sorri e me levantei, caminhei até a cama, até onde ela deixara o notebook ligado.

-Você me conhece. Eu preciso disso. Sou assim. - Abri o computador, apertei na caixinha piscando em laranja e li o que estava escrito. - E tudo o que eu queria, era estar errado sobre ela ao menos uma vez. – Virei a tela para minha amiga e ela leu, “Meu namo fik aqui até a meia noite, depois q ele for para casa eu te ligo e você pode vir me buscar.”

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