Imperfeitos

Não somos perfeitos.

Nossos pensamentos se perdem batendo uns contra os outros.

Somo agitados,

Formigas de um formigueiro em chamas,

Desesperados,

Errantes,

Desajustados buscando desenfreadamente uma maneira de sobreviver ao pôr do sol.

Somos mães solteiras de três filhos.

Somos o adolescente com pó branco saindo do nariz na terça feira à tarde.

A estudante de vestido vermelho com medo da gravidez não planejada.

Somos o pai desempregado que segura uma garrafa de rum encostado da parede de lugar nenhum.

Somos a insegurança.

O êxtase.

Somos o medo

e a vergonha.

Somos humanos perdidos em um mundo que não compreendemos.

Tentamos todos os dias,

e com mais força ainda no seguinte que no anterior,

mas não faz diferença.

Nunca faz.

Quanto melhor tentamos ser pior nos tornamos.

Quanto mais tentamos acertar mais erramos.

E acabamos sempre no mesmo ponto:

Sobre a cama desconhecida de um quarto de motel com um rosto não familiar deitado ao lado.

Somos repulsivos,

Infelizes.

Mas lutadores.

Porque aqui estamos porque devemos estar.

E não há pedra, não há buraco.

Não há montanha ou vale,

Que nos regozije.

Somos humanos.

Duvidosos.

Incoerentes.

Desconfiados.

Repúdios.

Mas amamos.

Somos melhores do que pensamos.

Podemos ser melhores do que imaginamos.

Podemos amar.

Salvar.

Podemos segurar a lágrima que escorre no rosto da moça virgem que perde um antigo amor.

Podemos embalar uma criança recém nascida.

Podemos curar a perna de um cãozinho de rua e lhe dar um lar.

Somos esperança.

Somos a crença de um dia mais brilhante.

Não importa como nos entreguem o mundo.

Não importa como estamos quando o sol nasce.

Importa o que iremos fazer no intervalo até ele se pôr.

Não importa como o dia começa,

mas como ele termina.

E mesmo quando perdidos na escuridão,

Ainda haverá a lua,

E mesmo quando no final do dia, de Tudo,

Ainda há esperança.

Ainda Somos nós mesmos.

E aqui vamos estar,

Até o fim,

e depois disso.