sexta-feira, 8 de janeiro de 2010

Histórias de Jake - No Fundo do Abismo

-Positivo.

Ele a escutou dizer pelo telefone, mas não conseguiu responder qualquer coisa, não que tivesse tomado por grande surpresa, já imaginava que isso pudesse ter acontecido, ele sentia nela, mesmo com os dois negativos nos teste caseiros ele sabia que não podia confiar neles. Não respondeu nada porque simplesmente não conseguia encarar a realidade, que ele estava passando por um momento que deveria ser um dos melhores de sua vida e tudo que ele conseguia pensar para dizer era... “MERDA!”

-Deu POSITIVO Jake!

-Eu escutei... –ficou em silêncio mais uma vez, não conseguia encontrar o que dizer. –estou indo.

Desligou o telefone e foi ao encontro dela. Tentava pensar nas coisas boas, em como seria ter uma criança em sua vida, mesmo tão jovem, ainda na faculdade, não, não poderia mais fazer a faculdade, são novas responsabilidades, mas isso seria simples, o semestre estava prestes a terminar, poderia tomar essa decisão agora, e o que mais essa criança significava? Conquistara finalmente a mulher que ama? Não, não pensava assim, jamais iria colocar as dificuldades de seu relacionamento em seu bebê. Dois mil pensamentos lhe ocorreram, inclusive o do EX psicopata ao saber que agora ela não tinha mais só uma filha dele, mas um novo bebê de sobrenome jake. Por mais que fosse impossível, colocou um sorriso no rosto e retirou os pensamentos ruins e duvidosos da cabeça.

Abriu a porta.

Ele parecia estar tentando ver o melhor lado das coisas, parecia querer isso, ou ao menos viver com isso da melhor maneira possível e queria ter chegado frente a ela e ter dado um abraço bem forte, sorrindo e que os dois se sentissem felizes por estarem esperando uma criança, juntos.

Mas ela estava chorando.

Sentada com os cotovelos apoiados nos joelhos e a face escondida sob as mãos, ergueu o rosto e revelou a face vermelha com os desenhos molhados das lágrimas e a maquiagem borrada puxada para fora do rosto pela ponta dos dedos ao limpar as provas de sua frustração.

Ele deu dois passou em sua direção, queria abraçá-la, estar com ela, dar a ela seu amor, mostrar que estaria sempre ao seu lado, mas ela o empurrou para longe, com o gesto das mãos e o olhar que dizia “deixe-me só”, ele recuou.

Ficou em silêncio e viu-a levantar e lhe dar as costas, ela andou até a parede e se escorou nela, cruzou os braços e o olhou no rosto por alguns instantes, para voltar então a admirar os tênis All Star.

Ele queria dizer que estava tudo bem, que ele tomaria a atitude que era necessária, sabia o quanto complicado era a situação, nem ao menos conhecia a família dela, em quatro meses nunca fora apresentado, ela dizia que era melhor assim, tinha medo do que o psicopata do ex poderia fazer se descobrisse, e neste ponto ela estava certa, ele poderia muito bem matá-lo se tivesse vontade, mas esse não era o real motivo, a verdade, ele estava prestes a descobrir.

Abriu a boca para dizer o que sentia, mas o celular dela tocou.

Era ELE.

Não atendeu. Ainda deveria estar com as cordas vocais tremulas, não conseguiria sequer disfarçar. “Por que ele está te ligado?!?!” Queria ter perguntado, mas esse não era o momento, isso não tinha importância, ao menos achava que não.

-Sabe qual é o pior?

Ela disse olhando para o chão, e então ergueu o rosto molhado para olhá-lo diretamente, parou de falar por um breve momento, como se quisesse que ele completasse, mas ele não o fez, jamais ele teria imaginado quais palavras concluiriam aquela frase.

-O pior é que não é teu. É dele.







Saiu sozinho pela rua, nem sequer olhou para trás para vê-la embarcar no carro dele, ou imaginá-los se beijando bem em sua frente, caminhou rápido sem pensar para onde iria, seguindo o instinto, o piloto automático que o levava para casa todos os dias.

O telefone tocou.

“Morticia”

Era a única pessoa que ele conversaria agora, era exatamente para quem queria ligar, mas como sempre ela estava um passo a frente, ele agradeceu por ela ter telefonado, quase soltou um suspiro de alívio quando leu seu nome na tela do celular.

-Alô.

-Garoto onde você está? Estou indo para a faculdade sei que você precisa.

Ele agradeceu por ouvir sua voz e por ela ser assim tão... ela.

-Vai rápido tá!?... Pre...ciso d ti...

Ele não havia se dado conta do que acontecia, estranhou a voz lhe falhar e passou a mão no rosto, olhou para a ponta dos dedos... “molhados???” Lágrimas... ele estava chorando, realmente estava chorando pela primeira vez nos últimos dois anos. Não se lembrava mais como era sentir tanta dor, estar tão triste...

-Estou indo! Eu estou contigo garoto, te encontro lá!

-Está... bem.

Desligou o telefone e começou a correr, precisava dela, precisava estar com ela, era sua melhor amiga, ninguém mais poderia escutá-lo e não apenas isso, estava correndo porque sabia que precisava estar ao lado dela quando estivesse desmoronando, suas lágrimas era apenas o começo da dor, depois de tanto tempo com o vento batendo em seus cabelos finalmente avistava o fundo do abismo, as lágrimas eram apenas aquilo que antecedia o impacto, se sua face se encontrasse com aquele chão pedregoso lá no fundo sem sua amiga para juntar seus pedaços, não se reconstituiria jamais.

Ela estava de costas na calçada, procurando-o, perguntando-se de que lado ele surgiria, a quase dez metros de distância ela virou para ele, não com a dúvida de quem procura alguém na multidão, mas com a certeza de que a espera chegou ao fim.

Ele tornava a correr, mesmo cansado e ofegante voltou a correr, ela ficou onde estava e simplesmente abriu os braços. Ele a abraçou, forte, forte como se quanto mais força usasse menos dor sentiria, menos seu peito doeria, ela retribuiu com a mesma força e afagou sua cabeça, fez carinho em seu cabelo como uma irmã faria em seu caçula.

-Chore meu amigo, pode chorar agora... depois você me conta.

Grandes momentos de nossas vidas merecem um cenário apropriado. Uma escolha de ambiente, ambos sabiam que conversar em pé frente à universidade não seria o melhor para os dois. Caminharam em silêncio, ele tentava se acalmar e ela sabia que não podia forçá-lo a falar, não se consegue falar quando antes é preciso chorar, ela deu a ele o tempo que precisava. Sabiam para onde iam, era uma pequena praça com um alto canteiro circular no centro com quatro bancou em sua volta, não sentaram nos bancos, mas na beirada, desviando para não amassarem as flores da pequena plantação. Sentaram lado a lado, ela o olhando de tempos em tempos, ele tinha os olhos vidrados, fixados na terra do nunca.

Foi um longo período de silêncio, ela esperando até o momento em que ele estivesse pronto.

-Ela está grávida.

Ela fechou os olhos, parecia sentida, talvez decepcionada, mas não surpresa, era como se ela já soubesse, ou já esperasse, fato é que se ela dissesse que já sabia ele não teria tomado como surpresa. Assim como não foi surpreendente ela responder:

-E não é teu.

Ele baixou a cabeça e fechou os olhos.

-E não é meu.

Ela colocou as mãos sobre os ombros dele.

-Você já sabia disso Jake. Você sabe que já sabia e você se permitiu isso. Você a conhece, sabe como ela é, você sentia, sentiu o tempo todo desde o início. Ela nunca esteve com você. Quando ela dizia que estava em casa, quando ela te ligava falando baixo dizendo que não queria que a mãe escutasse no quarto do lado... ela estava na casa dele, ela estava na cama com ele.

Ele gritou.

Gritou mas não com ela, gritou para o nada, para o céu escuro, para os anjos que o olhavam e não faziam nada, mas ele sabia porque não faziam nada. Foi escolha dele, foi decisão própria, conhecendo os riscos e assumindo, ele sabia. Sempre soube.

À medida que gritava suas lágrimas desciam com mais força, mas gritar parecia aliviar a dor, então ele gritava novamente, e novamente, e mais uma vez depois disso, até suas forças esvaírem de seu corpo através de seus olhos e amolecerem seus braços e pernas. Perdeu o controle do próprio corpo e deslizou, por um momento pensou que fosse perder os sentidos, mas Ela o segurou, desceu com ele até o chão e apoiou a cabeça dele em seu ombro, abraçado e deixando suas lágrimas molharem sua roupa. Ele tinha o corpo mole, os braços largados no chão como se estivessem sem vida, as pernas esticadas nas pedras sujas e lisas da calçada.

-Você precisa se reerguer meu amigo. Você precisa ser forte porque ainda não acabou. Não é assim que termina a história de vocês, você precisa se reerguer mais forte agora e se preparar, porque é agora que vem o seu momento crítico. Você ainda vai se magoar, e precisa estar preparado para isso. Você sabe... que não acabou.

Ele recobrou a consciência. Olhou para ela vagarosamente...

-Sim... eu sei.

E deitou novamente a cabeça naquele ombro quente, naquele ombro afetuoso, podia senti-la, podia senti-la viva e forte, radiante, podia sentir a força de sua existência.

-Pegue meu amigo, pegue para você, eu estou te transmitindo agora toda a minha força, toda a minha luz, eu estou te dando forças para enfrentar o que você vai precisar enfrentar, aceite, aceite e pegue minha luz.

Ela o abraçou com mais força e ele fez o mesmo, tinha os olhos fechados, mas podia ver, algo luminoso, algo bom como há muito tempo não sentia, era quente, quente e vivo, sentiu suas forças recobrarem e suas lágrimas secarem, sentiu seu corpo se aquecer novamente ao mesmo tempo em que o dela esfriava.

A noite pareceu ficar menos escura.

-Seja forte meu amigo. Ainda há muito pela frente.

Ele sorriu.

-Venha Garoto, vou te pagar uma Coca-cola.

Sentaram-se nas cadeiras brancas metálicas dos fast food e pediram uma porção de fritas e o refrigerante negro habitual.

O celular dele tocou. ELA.

-Não atenda, você ainda não está pronto.

-Você sabe não?... eu nunca te escuto.

Ela deu um sorriso e ele piscou o olho direito. Cômico? Sim, mas apenas entre os dois, ninguém mais estaria na mesma freqüência para entender o que pensavam.

-Alô?

-Como você está? Fiquei preocupada, você não parecia bem quando saiu.

Como você esperava que eu estivesse?!?!?!

Mas foi apenas um pensamento leviano, jamais diria algo desta maneira. Não até aquela noite, levaria um tempo para perceber que mudara depois de passar por isso e esta noite se tornaria um marco para sua vida. Quando perdeu os sentidos brevemente e Morticia o puxou para cima ela o salvou, mas não por completo, uma pequena parte se perdeu naquele momento e um pequeno ser surgiu em seu interior. Uma parte obscura que o permitiria falar coisas que antes apenas pensava, e foi essa mudança que o permitiu responder.

Respondeu sorrindo.

-Estou muito bem, obrigado.

Desligou o telefone.



...continua

7 comentários:

  1. Tá ficando bom nesse négocio Diogão...
    Parabéns!!!
    Ainda vou ter o prazer de comprar um Romance seu.
    Abraços, e uma coca-cola pra refrescar!!! hehe

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  2. Voltei Dioguito. Confesso que seu comentário me fez pensar que eu deveria aparecer para dar um OI! pelo menos, mas vc trabalha em "comércio" e sa be como é a temporada!
    Horas e horas incessantes de trabalho! tempo zero pra gente e quando sobra vou pro bar!
    ihuuul
    estou numa pausa de cliente, não consegui ler sua história, mas qdo eu chegar em casa leio.. espero, antes de dormir! auauha


    bjooos
    saudade de ti guri

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  3. Muito bom!gostei daqui...

    Tornei-me seguidora.

    beeejos

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  4. Diogo!!

    Fiquei pensando...no que esvreveu ...
    volto depois e releio e te digo algo sobre esse assunto

    gostei de vir aqui


    abraço

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  5. Medo....
    Apenas limitados e humanos.

    Adoro-te bjo,
    Keli

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  6. Este comentário foi removido pelo autor.

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  7. Uallllllllllllllllllllllllllll
    M-A-R-A-V-I-L-H-O-S-O-O-O-O-O-O-O!

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