sexta-feira, 20 de novembro de 2009

Histórias de Jake - Índole

Raras eram às vezes dormiam juntos.
Ele se deliciava em acordar com o sol entrando pela janela e senti-la deitada em seu peito. Agora podiam fazer isso, agora ele tinha uma casa, uma cama apropriada, mas nem sempre foi assim, como daquela vez...

a primeira vez...





-O que aconteceu no final de semana? –perguntou a amiga. O negócio de queijo havia terminado, mas ela parecia ainda ter vontade de mastigar alguma coisa.
-Nós ficamos a semana inteira, e ninguém notou.
-Tem dinheiro aí?
-Quanto você precisa?
-Dois reais, ninguém notou?
-Fomos discretos.
-Até o final de semana.
-Sim, até o final de semana.

Era a peculiaridade nas conversas dos dois. Dois ou três assuntos ficavam em pauta na maior parte do tempo, e sem aviso prévio se atravessavam uns aos outros, sem problema algum, embora seja difícil de acreditar que alguém que escutasse a conversa entendesse alguma coisa.


Ele e a Colega trabalharam até o meio dia naquele sábado. Após a saída iriam almoçar juntos, com mais dois integrantes, a Loira Sorridente e o Mestre dos Magos –os mesmos presentes na mesa de bar na noite em que ele batera o carro do amigo.

Certamente que nesta mesa, também havia bebidas, e o brinde principal era...
“À separação”
-e ao sexo casual disse ele.
Risadas gerais.
Mestre dos Magos tinha anos de guerra, na verdade mais anos de vôo do que qualquer um deles tinha de guerra. Ele notou nos olhos do Mestre que não poderia enganá-lo, haviam se entregado com as trocas de olhares, as mãos dadas sob a mesa, eram crianças, crianças que achavam estar fazendo papel de adultos.
Bastou as colegas levantarem da mesa para ir ao banheiro após algumas taças de chop, que o Mestre fez a pergunta, pergunta que nem precisava ser feita.

-Está rolando alguma coisa aí não?
Ele não respondeu, não com palavras, afirmou com a cabeça encabuladamente.
-E vocês já...
-Não.
-Mas hoje vai. –completou o Mestre.
Os olhos dele levantaram, isso lhe chamara a atenção.
-Hoje vai, eu conheço o tipo, mais duas de chop e ela fica prontinha.

Ele sabia disso, sabia o que aconteceria, mas não lhe agradava nem um pouco a idéia de ela estar anestesiada pelo álcool quando acontecesse, não gostava disso, nunca admirou mulheres que bebem até esse ponto, menos ainda as que bebem até se tornarem... maleáveis.
-Só quero que você não comente isso Mestre, ainda não contei para...
-Para a sorridente? Não se preocupe, você nem precisava me pedir, mas agora silêncio, elas estão voltando.

Dezesseis horas ela deveria estar em casa. Era a hora combinada, precisava voltar para cuidar da filha.
Dezesseis horas Ele e Ela estavam na parada de ônibus.
Quase na hora da despedida ele a puxou de costas pelo cós da calça, colou seu corpo no dela e lhe deu um demorado beijo, quando se afastou ela soltou um suspiro forte, um clamor frenético implorando por...

-Eu já volto. – ele disse.
-E se eu ficar esperando e você não voltar?
-E se eu voltar e você já tiver ido para casa?

Olharam-se por alguns instantes, ela não acreditava nele.
Ele não acreditava nela.
Tratavam aquilo como um jogo, uma forma de diversão, sempre um brincando com a cabeça do outro, e justamente por terem começado dessa forma é que nunca houve confiança de um com o outro. Começaram com o pé esquerdo.

Ele estava dentro da farmácia quando a loira sorridente passou pela frente. Ela entrou sem saber o porquê ele estava ali, quando olhou para o que ele estava comprando, o envelope sobre o balcão, sua cabeça parecia acompanhar um jogo de tênis. Do envelope para ele 15 dele para o envelope 30 do envelope para ele 45 dele para o envelope Vantagem
Uma luz acendeu sobre a cabeça dela e de repente tudo fez sentido, ela percebeu que o amigo lhe escondera o maior segredo até o momento, mas não foi desaprovação, como o esperado foi um sorriso.
-Você e.... ela?
Ele afirmou com a cabeça. Ela caiu na gargalhada e lhe deu abraço ao mesmo tempo em que disse que ele precisaria contar para ela cada detalhe –exceto os sórdidos- mais tarde.

Quando voltou para a parada de ônibus ela ainda estava lá, esperando.
Foram até a casa dele, o caminho até lá nunca parecera tão longo, ela tinha as pernas bambas nessa altura, a cabeça pesada e a língua enrolada, ele... estava feliz, mas decepcionado, não queria ela dessa maneira, jamais quis qualquer garota assim.

Não era exatamente um lugar para se chamar de lar.
Duas peças, o quarto e o banheiro. Um ventilador no teto, uma janela de vidro fosco e uma estreita cama de solteiro.
A iniciativa foi toda dela.
A mente dela era indecifrável, por mais que se tentasse ler, tudo parecia ter sido acorrentado a um canto com um segurança enorme de guarda chamado Etílico. Apenas uma coisa ficara solta, e esta dava piruetas no salão desocupado de sua cabeça, a libido.
A mente dele era uma bagunça, milhares de coisas, cenários, encrencas, problemas, crianças, ex’s, álcool, tê-la dessa forma, tê-la da forma mais repugnante que um homem pode ter uma mulher, a exceção do estupro.
Não. Não o faria. E não o fez.

Ele a deixou na parada de ônibus três horas depois.
As pernas dela já eram um pouco mais firmes.
Tinham as mãos dadas, mas quando foi embora, ela não o beijou.



-Como assim ela não te beijou? Que audácia, vocês quase... e ela...
-Talvez tenha ficado chateada. –ele disse com um sorriso irônico.
A amiga, que agora parecia finalmente ter terminado de comer, soltou um suspiro debochado.
-Não interessa, que falta de consideração, a guria vai pra cama podre de bêbada e ainda fica de mal contigo. Você teve uma atitude que poucos homens teriam, a maioria se aproveitaria ao máximo da situação.

Ele suspirou, sabia que era verdade, mas por alguma razão, a qual ainda desconhecia, sempre a defendia.

-Bom... isso são pontos de vista...
-Boa noite pessoas! –outra amiga chegara. Baixinha, da estatura dele, cabelos negros longos e pele branca, o desenho perfeito da Morticia.
-Que bom que você chegou Amiga. -disse a garota que já estava à mesa- A história está chegando no seu ápice.
-Nããão. Já ouvi essa história. –respondeu a Morticia.

Ele deu um breve sorriso.

-Pois se sente, esta que vou contar agora é novidade para você também.

De imediato, como uma fã que encontra seu escritor favorito, ela sentou-se.

-Na sexta feira que se seguiu, tivemos uma visita na loja.

Ambas estavam sentadas com os cotovelos apoiados na mesa e o rosto sobre a palma das mãos, crianças assistindo ao desenho predileto.

-Adivinha só o que aconteceu...



...continua


Um Grande Abraço
Diogo S.Campos

2 comentários:

  1. Ixxi!Aguardem o próximo capítulo #roendoasunhas

    Bjo

    ResponderExcluir
  2. Fala Diogo!!!

    blz???

    Cara, fiquei feliz pelo comentário lá no Tô ligado!... Bom saber que venho fazendo um bom trabalho.

    Neste momento estou sem pc, mas assim que o tiver em mãos gostaria muito de participar.

    Já estou te seguindo tbm!!!

    Abraços!
    Brunno

    ResponderExcluir