sexta-feira, 18 de setembro de 2009

Histórias de Jake - Festa Estranha com Gente Esquisita

O mundo já girava antes mesmo de ele colocar os pés na festa.



Resultado do chamado "esquenta",
encarado com naturalidade pelos adolescentes do ensino médio,
mas somente depois eles vêm a descobrir como se bebe para não ficar mal tão cedo.

Ele e os quatro amigos conversavam em um circulo antes de entrar na festa,
sempre houve uma espécie de pacto silencioso entre eles,
não pegavam uns as mulheres dos outros,
e este momento servia simbolicamente, para esclarecer isso.

-A minha está lá dentro me esperando, vocês sabem. -disse ele.
-Sim a tua está sempre te esperando, a isso damos o nome de namorada.

Os demais riram.
Ele era o mais baixinho, o único deles que não namorara até ali, e sempre fora o brincalhão, seu humor ácido sempre serviu de arma contra os outros, e nesses se encaixavam também seus amigos, alvos de suas piadas maldosas sobre suas namoradas. Isso o impedia de admitir que praticamente estava namorando.
Ou ao menos, assim eles pensavam.

Vestiam roupas estranhas, era o objetivo da festa, temática, deveriam vestir-se de maneira bizarra.
Ele usava uma regata branca sobre a camisa de botões preta e com manga curta,
uma gravata listrada preta e vermelha,
uma bermuda preta e um tênis prata,
nas mãos, luvas de linha preta.

Quando entrou na festa, a realidade começou a lhe escapar,
tinha tanto álcool na cabeça que nem mesmo estava consciente de suas palavras.
ou de seus atos.

Sua memória não se recorda o que aconteceu entre o momento que entrou e o que estava sentado em um banco num dos corredores daquela casa de festas.
a seu lado,
ela,
a loirinha, baixinha e de peito estufado,
cabelos dourados lisos e compridos até o meio das costas,
olhos claros,
mesclando o azul e o verde,
azul na maior parte, e no centro, verde, verde claro e quanto mais próximo a pupila mais escuro ficava,
olhos únicos,
nunca vistos por ele em outra pessoa,
e que jamais sairiam de sua memória,
mesmo anos depois, pai de uma menina com outra mulher.

Ela vestia-se como sempre,
calça jeans justa,
tênis All Star,
blusa de alcinha,
e as pulseirinhas costumeiras no pulso direito.

Não se sabe o que foi dito,
mas ela se ergueu balançando negativamente a cabeça.
A consciência dele vinha a devaneios,
não sabia o que dissera,
mas ouviu o que seu amigo disse quando lhe segurou pelo braço.

-Para de beber, não vê o jeito que ela saiu daqui.

Ouviu, mas não colocou em prática.
apenas respondeu um "Tá, valew."
E foi até o bar comprar mais bebida.
Vodka, era sempre vodka.

Caminhou, tropeçou um pouco naquilo que ele chama de dança.
E voltou para o mesmo banco,
o tal banco se assemelhava a um imã para ele, por mais que caminhasse, voltava para esse banco.

Uma grande amiga estava lá.
Amiga que ele até mesmo chamava de irmã.
Ela o segurou e o colocou sentado no banco,

-Você precisa parar de beber. -disse ela.

Ele a olhou fixamente, virou-se ou pouco para mexer no bolso de trás da calça,
demorou, como o bêbados costumam fazer,
tirou uma nota de dez reais.

-Compra uma Vodka para mim.

Sua voz era enrolada, tropeçava nas palavras,
falava parecendo que tinha a língua inchada, pesada demais para ser erguida nos "erres" e "eles" e sem consistência para fazer os "esses".
Ela deu um suspiro, pegou o dinheiro e lhe deu as costas.
Sua noção de tempo estava afetada, em sua memória, a vira saindo, e em seguida voltando.

-Aqui. - ela lhe alcançou um chocolate e uma latinha de guaraná. -Você não vai mais beber. Agora come esse chocolate.

Ele comeu, não discutia com ela, tinha por ela o mesmo amor que sente por sua própria mãe,
o amor quente,
gostoso de abraçar,
e preocupado, sempre preocupado.
Ela apenas o deixou quando ele terminou de comer o chocolate e começou a tomar o guaraná.

Assim que ela saiu, um amigo, estudante mais novo do que ele sentou a seu lado.

-Você tem Guaraná, eu tenho Vodka.

Eles se olharam através daquele copo com líquido transparente.
A próxima memória dele seria quando se escorou sem forças em uma parede e sua garota passou por ele,
rápido,
a princípio sem o ver,
em seguida parou,
ela perguntou de alguém,
o cérebro dele demorou a relacionar nome a pessoa,
e quando percebeu que ela perguntava por um de seus amigos,
ela já estava longe,
e suas pernas não tinham forças para acompanhá-la.

Ele resolveu sair daquele lugar um pouco.
pegou um ar, recuperou um pouco a consciência,
e voltou.

Encontrou com os amigos,
ficara junto de um mais gordinho,
o piadista do grupo,
mas afastado deles, outros dois,
e a um canto, como sempre, o outro.
O Quadrado Mágico.
Quadrado de cinco integrantes, mas era esse o nome.

Dançavam, descontraídos.
Ele olhou ao fundo,
lá estava ela,
seu unicórnio como ele costumava dizer,
criatura bela e dócil, impossível de ser capturada.
ela veio em sua direção,
tinha os olhos baixos,
bebera,
e não bebera pouco,
deu um leve sorriso,
um sorriso amargo,
vinha na sua direção, mas antes de chegar,
o tempo parou,
parou e o instante que se congelou durou uma eternidade,
e assim como estava parado,
repetia-se infinitas vezes dentro de sua mente.

Ela segurou na mão do colega gordo e o fez virar para ela,
colocou as mão em ambos os lados da cabeça dele e o puxou para si,
o beijou,
beijou de olhos fechados,
beijou o amigo dele,
um integrante do Quadrado Mágico.
A amizade bate de frente contra a masculinidade neste momento,
ele não julgou que seu amigo não devesse ter aceitado o beijo,
ele foi forçado, em um primeiro instante,
mas quando viu os braço dele a envolverem pela cintura...
Não agüentou.
Virou as costas e saiu.

Sentou do lado de fora, em um banco de madeira,
pegando um ar, de cabeça baixa,
não percebeu quanto tempo ficou ali,
nem quantas pessoas passavam o encarando,
sentiu o banco sacolejar e olhou para o lado,
era um de seus amigos,
deles, o que mais gostava.

-Como você está? Ele disse para eu vir te ver, disse que não foi culpa dele.
-Não estou bem, não gostei e você sabe disso. Senti-me um covarde saindo daquele salão sem fazer nada, retirando meu time de campo, se é culpa dele ou não, eu não quero explicações, vi e sei o que aconteceu. Ele que fique com ela, não quero mais ela na minha vida.

Mentira, era mentira que não a desejava mais,
mas naquele momento,
era muito mais fácil pensar assim.

-Agora me deixe sozinho.

E assim foi.
Não teve tempo para pensar muito mais,
o banco tornou a se movimentar,
e quando ergueu os olhos encarou Iscariotis.

-Olha, me descul...

As palavras bateram contra a mão que ele ergueu,
a palma aberta em sinal de que parasse de falar.

-Não tem problema, eu sei como ela é, não quero mais ela, pode ficar, faça o que bem entender.

Judas acendeu um cigarro:
-Vou te dizer uma coisa...
Ele baixou a mão e parou para escutar.
-Eu acho que "como"

Foi como um carrasco que solta a corda da guilhotina,
Ele estava deitado e o gordo de capuz preto.
o som da cabeça caindo no balde silenciou ambos,
não ouve uma resposta,
jamais compreendeu porque um amigo lhe diria aquilo,
conhecendo toda a situação que se encontravam.

Sozinho novamente ele ligou para o pai ir buscá-lo.
Não voltaria com os amigos desta vez.
Em sua cama, dormiu uma noite sem sonhos.
Típica de noites de grandes tragédias.


Um Grande Abraço
Diogo S.Campos

2 comentários:

  1. Very crazy!!

    Normalmente é melhor não saber até mesmo Jake sofre por amor :D

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  2. Ótima história. Jake passa por umas situações que se fosse eu... perderia completamente o "chão".
    Bjão

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