quarta-feira, 3 de abril de 2013

CRÍTICA - Jack, o Caçador de Gigantes


Jack é uma tentativa frustrada da Warner em entrar no mercado de filmes de fantasia.


JACK, O CAÇADOR DE GIGANTES - Jack the Giant Slayer



Fi-fa-fo-fu-fão. A maneira com que Bryan Singer escolheu para começar  seu conto de fantasia parecia introduzir um ar diferente ao filme. A exemplo de outras adaptações de contos antigos, a abordagem pode ser feita de dois modos: trazer o enredo para um mundo mais palatável, como João e Maria, ou mergulhar de vez na magia, como em Oz, Mágico e Poderoso.  As sílabas tão conhecidas que abrem o filme Jack, o Caçador de Gigantes, pareciam zombar do conto e, em uma história de ninar, contemporaneizar a história de João e o Pé de Feijão. Mas Singer não o fez, e tão pouco se permitiu aprofundar na magia, ficou empacado e transformou a oportunidade de aplicar aquilo que aprendeu em X-men, em um grande fracasso.

A proposta do filme se perde, não é possível encontrar a lógica  pretendida para Jack. O filme, inicialmente, é colorido, limpo, com cavaleiros de armaduras reluzentes e criadagem extremamente higienizada, com um “João” pobre, de cabelo extremamente limpo e penteado. Uma produção infantil. Tão logo  somos apresentados aos gigantes, a impressão de que seria um filme de crianças se perde, ao testemunhar  aberrações violentas, feias e relaxadas, a clara intenção de um longa adulto, mas que não consegue ir além por estar preso na elaboração infantilizada.

Eis que se aguarda pacientemente pela evolução do 3D, que em alguns filmes de enredo e produção fraca, torna o período na cadeira de cinema um pouco mais aceitável. Um filme com orçamento quase tão grande quanto Oz, Mágico e Poderoso — foram U$ 200 milhões para Oz e U$ 195 milhões para Jack— poderia ter se aproveitado muito mais da tecnologia, principalmente em uma película que possibilitaria visões gigantescas, pegadas enormes e escaladas vertiginosas em um assombroso pé de feijão. Mas nada disso acontece. O 3D é fraco e quase ausente, e os efeitos especiais são, mesmo levando em consideração o desafio, desanimadores.

O roteiro basicamente não sofre alterações do original, ao levar em consideração que não se apóia apenas em João e o Pé de Feijão, mas também no conto inglês “Jack, The Giant Killer”. Somos apresentados ao menino pobre que vai a cidade vender seu cavalo, antes uma vaca, e acaba com feijões mágicos em seu poder. Dali em diante ele se vê preso em uma conspiração pelo trono, e se apaixona pela filha do rei. Se de enredo Jack, o Caçador de Gigantes parece fraco, ele declina durante o longa. Seu desfecho é tão pobre que se limita a poucas palavras após um pequeno momento de ação, uma história que não exige em nada do espectador, escrita para um público preguiçoso e que não quer ser surpreendido.

De atuação, temos atores capazes desvalorizados por personagens fracas e um enredo limitado. Ewan McGregor, experiente no mundo das fantasias após três filmes no papel de Obi Wan Kenobi, parece fazer da interpretação um passatempo, tem facilidade em gerar o carisma de seu personagem, o capitão da guarda do rei, mas fica preso ao roteiro, que praticamente o restringe a uma escalada em meio a piadas e virar comida de gigante.

O que aparentemente está tomando forma entre as produtoras é escalar um casal protagonista. Pois bem, já é difícil para o público aceitar um iniciante como personagem principal, quem dirá dois. Jack falha neste ponto também. Nicholas Hoult e Eleanor Tomlinson que encarnam Jack e a princesa, ficam muito aquém do esperado, e suas atuações apenas convencem ao serem entrelaçadas aos momentos de ação e humores de personagens melhores.

Jack nasce da necessidade da Warner em entrar na competitividade dos filmes de fantasia, traz na publicidade o nome de um diretor consagrado por um trabalho no ramo e embarca na onda de filmes das concorrentes. Com um produto bruto de potencial, a empresa esperava fazer um grande sucesso como João e Maria ou Oz, mas não chega aos pés dos trabalhos da Paramount e da Disney, e precisa agora voltar para a mesa de ideias e repensar em uma maneira de recuperar os quase U$ 100 milhões de prejuízo.


Diogo S. Campos



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