Um Ano e Meio depois...

Mudei há um ano e meio.


Vocês sabem como funcionam as mudanças não?
Correrias, horários agendados, caminhões com motoristas gordos de um braço branco e outro preto pelo queimado do sol, inúmeras cordas que saem sabe-se lá de onde para segurar os móveis desmontados e irreconhecíveis aos quais precisaremos de um mapa especificamente detalhado para saber qual porta vai em qual armário.
Mudamos para um apartamento no terceiro andar de um prédio de três andares. Sabe deus porque, mas prédio de três andares não têm elevadores, talvez porque alguém pensou que três escadas de vinte degraus não iriam cansar ninguém ou talvez por acharem que faz bem para a saúde, mas o fato é que o arquiteto não precisou subir com um fogão, uma geladeira, duas camas e toda aquela quantidade enorme de coisas que temos as quais nem mesmo sabemos o nome.

Hoje, abrimos a última caixa da mudança.
Ou o que acreditamos ser a última caixa, elas parecem se multiplicar, geração espontânea, uma vira duas que viram quatro e depois oito e assim por diante. Desta vez foram as persianas, não tenho certeza se não havíamos as instalado por esquecimento ou por preguiça, mas a verdade é que as janelas estavam parecendo nuas sem elas, os quartos ficaram mais aconchegantes e quentes, poderia dizer que quase agradeceram pelo novo visual. Não que tenha sido simples, furadeiras e barulhos e porcas e chaves de fenda e tudo o mais, mas não foi assim tão difícil e deu uma revigorada, uma mudança simples que fez tudo parecer diferente.


É disso que precisamos às vezes.
Tomar uma decisão, prender o ar e pular na piscina de água gelada.
Assim fazemos uma faculdade,
assim trocamos de carro,
assim compramos casas,
Assim conhecemos o amor de nossas vidas,
e talvez um ano e meio depois abriremos nossa última caixa da mudança.