Gavetas

Não sei por que ainda me surpreendo com o tanto de coisas que saem das minhas gavetas.

De tempos em tempos limpo minhas gavetas.
As do criado mudo,
do guarda roupa,
da despensa do banheiro,
a gaveta pequenininha da mesa do computador,
que por incrível que pareça abriga muito mais coisas do que seu tamanho aparente no permitiria dizer.
E cada vez que às abro para fazer essa faxina,
selecionar papéis que preciso, notas de super mercado que não são mais necessárias,
cada vez saio com ALGUMAS sacolinhas brancas cheias,
e mesmo assim,
toda vez me surpreendo.
É incrível como encontramos coisas dentro delas,
quinquilharias,
coisas que não precisamos,
coisas que guardamos sem saber a razão,
está incomodando em algum lugar e você joga dentro da primeira gaveta que aparecer,
De tempos em tempos faço isso,
dou uma limpada nesses registros,
nessas lembranças,
e foi nesta última ronda
que encontrei algo ao qual não me lembrava que ainda estivesse por aí,
encontrei uma foto,
a foto de um rosto ao qual tento esquecer diariamente,
meus olhos cruzaram com os daquela imagem inerte e meu estomago embrulhou,
uma única coisa a fazer,
tenho uma caixa de lembranças amarguradas,
uma "Rory's box"
joguei a foto lá dentro para não ter que rasgá-la, nem jogá-la fora,
uma forma de me lembrar que certas coisas não se fazem,
uma cicatriz que ninguém vê.
E das Gavetas?
Minhas gavetas estão leves agora,
veremos o que elas ainda me trarão.